Bichos meus

domingo, junho 28, 2009

Os ausentes ( ou mal educados?)

28 de junho de 2009 - MARTHA MEDEIROS

EU não assisti ao programa, mas soube da história. O jornalista David Letterman recebeu Joaquim Phoenix para uma entrevista. O ator fez jus à fama de bad boy: não parou de mascar chiclete e só respondia com monossílabos e grunhidos, não facilitando o andamento da conversa. Letterman tentou, tentou, e como não conseguiu arrancar nada do sujeito, encerrou a entrevista com uma tirada ótima: Joaquin, uma pena que você não pôde vir esta noite.Quando uma pessoa se dispõe a dar uma entrevista, tem que entrar no jogo: responder com generosidade ao que foi perguntado e valer-se de uma educação básica, caso tenha. É bom lembrar que a maioria das entrevistas não é feita apenas para dar ibope ao programa, e sim para ajudar na divulgação de algum projeto do convidado. Ambos saem ganhando. Só quem não ganha é a plateia quando o convidado finge que está lá, mas não está. Madonna é até hoje o trauma da carreira de Marilia Gabriela, pelos mesmos motivos.Claro que há quem defenda a atitude de Phoenix com o argumento da “autenticidade”, mas existe uma sutil diferença entre ser autêntico e ser grosso. É muita inocência achar que podemos prescindir de uma certa performance social. Espero não estar ferindo a sensibilidade dos “autênticos”, mas de um teatrinho ninguém escapa, a não ser que queiramos voltar a viver nas cavernas.Não sou de me irritar facilmente, mas acho um desrespeito quando uma pessoa faz questão de demonstrar que não compactua com a ocasião. São os casos daqueles que se emburram em torno de uma mesa de jantar e não fazem a menor questão de serem agradáveis. Pode ser num restaurante ou mesmo na casa de alguém: estão todos confraternizando, menos a “vítima”, que parece ter sido carregada para lá à força. Às vezes, foi mesmo. Sabemos o quanto uma mulher pode ser insistente ao tentar convencer um marido a participar de um aniversário de criança, assim como maridos também usam seu poder de persuasão para arrastar a esposa para um evento burocrático. Não importa a situação: saiu de casa, esforce-se. Não precisa virar o mestre-de-cerimônias da noite, mas ao menos agracie seus semelhantes com dois ou três sorrisos. Não dói.Dentro da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o.Ou faça de outro jeito, se preferir: dentro da igreja, escute-O. Durante um beijo, dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o mar, ajoelhe-se. Numa festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo, comemore.Esteja!Se não quiser participar, tudo bem, então fique na sua: na sua casa, no seu canto, na sua respeitável solidão. Melhor uma ausência honesta do que uma presença desaforada.-->
Os ausentes
Não importa a situação: saiu de casa, esforce-se. Não precisa virar o mestre-de-cerimônias da noite, ao menos agracie seus semelhantes com dois ou três sorrisos. Não dóiEU não assisti ao programa, mas soube da história. O jornalista David Letterman recebeu Joaquim Phoenix para uma entrevista. O ator fez jus à fama de bad boy: não parou de mascar chiclete e só respondia com monossílabos e grunhidos, não facilitando o andamento da conversa. Letterman tentou, tentou, e como não conseguiu arrancar nada do sujeito, encerrou a entrevista com uma tirada ótima: Joaquin, uma pena que você não pôde vir esta noite.Quando uma pessoa se dispõe a dar uma entrevista, tem que entrar no jogo: responder com generosidade ao que foi perguntado e valer-se de uma educação básica, caso tenha. É bom lembrar que a maioria das entrevistas não é feita apenas para dar ibope ao programa, e sim para ajudar na divulgação de algum projeto do convidado. Ambos saem ganhando. Só quem não ganha é a plateia quando o convidado finge que está lá, mas não está. Madonna é até hoje o trauma da carreira de Marilia Gabriela, pelos mesmos motivos.Claro que há quem defenda a atitude de Phoenix com o argumento da “autenticidade”, mas existe uma sutil diferença entre ser autêntico e ser grosso. É muita inocência achar que podemos prescindir de uma certa performance social. Espero não estar ferindo a sensibilidade dos “autênticos”, mas de um teatrinho ninguém escapa, a não ser que queiramos voltar a viver nas cavernas.Não sou de me irritar facilmente, mas acho um desrespeito quando uma pessoa faz questão de demonstrar que não compactua com a ocasião. São os casos daqueles que se emburram em torno de uma mesa de jantar e não fazem a menor questão de serem agradáveis. Pode ser num restaurante ou mesmo na casa de alguém: estão todos confraternizando, menos a “vítima”, que parece ter sido carregada para lá à força. Às vezes, foi mesmo. Sabemos o quanto uma mulher pode ser insistente ao tentar convencer um marido a participar de um aniversário de criança, assim como maridos também usam seu poder de persuasão para arrastar a esposa para um evento burocrático. Não importa a situação: saiu de casa, esforce-se. Não precisa virar o mestre-de-cerimônias da noite, mas ao menos agracie seus semelhantes com dois ou três sorrisos. Não dói.Dentro da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o.Ou faça de outro jeito, se preferir: dentro da igreja, escute-O. Durante um beijo, dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o mar, ajoelhe-se. Numa festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo, comemore.Esteja!Se não quiser participar, tudo bem, então fique na sua: na sua casa, no seu canto, na sua respeitável solidão. Melhor uma ausência honesta do que uma presença desaforada.
Esteja!
Se não quiser participar, tudo bem, então fique na sua: na sua casa, no seu canto, na sua respeitável solidão. Melhor uma ausência honesta do que uma presença desaforada.

Vinho

“Fazer vinho é relativamente fácil. Difícil são só os primeiros 200 anos”.
BARÃO DE ROTHSCHILD

sábado, junho 27, 2009

Da licença, mas eu vou sair do sério

'Me cansei de lero-lero
Dá licença mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar opiniões
De como ter um mundo melhor
Mas ninguém sai de cima
Nesse chove-não-molha
Só sei que agora
Eu vou é cuidar mais de mim!
Como vai, tudo bem
Apesar, contudo, todavia, mas, porém
As águas vão rolar
Não vou chorar
Se por acaso morrer do coração
É sinal que amei demais
Mas enquanto estou viva
Cheia de graça
Talvez ainda faça Um monte de gente feliz!'
Rita Lee - Saúde

Clarice Lispector

“Gosto dos venenos mais lentos! Das bebidas mais fortes! Dos cafés mais amargos! E os delirios mais loucos. Você pode ate me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: E daí, eu adoro voar!! Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza, não serei a mesma pra sempre".

Proteja-se das cãibras


Como os músculos ficam naturalmente contraídos no inverno, crises podem se tornar mais frequentes
Ninguém está livre da incômoda dor da cãibra. Ela vem quando menos se espera, até mesmo durante o sono. Segundo médicos, diversas causas podem estar relacionadas, desde uma alteração no balanço entre a quantidade de sódio e potássio nas células musculares até a fadiga do músculo ou mudanças hormonais, como no caso das mulheres grávidas.– Às vezes, porém, não conseguimos encontrar uma causa específica. Até algumas medicações podem provocar cãibras como efeito colateral. Medicamentos para controlar o colesterol, por exemplo, podem dar dor muscular – afirma o ortopedista Luís Fernando Machado.
Adianta comer banana? Clique e saiba como prevenir a cãibra.O especialista diz ainda que o frio destes meses do ano faz com que ocorram mais crises de cãibra.– No inverno, os músculos ficam naturalmente mais contraídos. Como a cãibra é uma contração muscular, em geral, ocorre mais nessa época. Mesmo outros problemas ortopédicos acabam sendo mais frequentes, como artrite e tendinite – exemplifica.Gestantes e atletas amadores são os alvos preferidos do problema. As grávidas pelas alterações hormonais, e os atletas pelo fato de fazerem exercícios sem o preparo físico adequado.– Esportistas profissionais têm melhor condicionamento e, por isso, menos tendência a sofrer de cãibra – diz Machado.A solução, quando a dor surge, é tentar alongar a região para vencer a contração do músculo.– Eventualmente, caso a dor seja grande, é possível tomar um relaxante muscular.Para quem tem dores frequentes, ele recomenda que um especialista seja procurado.– É preciso investigar a causa exata para poder saber como evitar.
Verdades e mentiras
TOMAR BASTANTE ÁGUA AJUDA A EVITAR A DOR
Verdade. De acordo com médicos, o ideal é que quem pratica esportes se mantenha hidratado durante os exercícios. A ingestão de bebidas isotônicas também é recomendada.
GESTANTES SÃO MAIS PROPENSAS A SOFRER COM CRISES DE CÃIBRA
Verdade. As mulheres grávidas estão mais suscetíveis às dores devido à ação dos hormônios, que sofre alterações durante a gestação, segundo os especialistas.
ESPORTISTAS PROFISSIONAIS TÊM MUITAS CRISES DE CÃIBRA
Mentira. Atletas profissionais costumam ter um bom condicionamento físico e, por isso, as cãibras são menos frequentes.
APENAS DURANTE EXERCÍCIOS FÍSICOS É POSSÍVEL TER AS DORES
Mentira. A cãibra pode aparecer a qualquer hora do dia, até mesmo durante o sono. Nesse caso, os médicos recomendam que o paciente tente alongar a região afetada.

Garota é uma lição para Ivete Sangalo

Giulia Olsson tem 14 anos e estuda no ensino médio na Flórida. Nos últimos meses, ela vendeu limonada na rua, lavou carros, disparou e-mail por várias partes do mundo para arrecadar dinheiro destinado à orquestra sinfônica de Heliópolis, a maior favela de São Paulo. Conseguiu levantar R$ 30 mil.

Giulia está, nesse momento, ensinando violino para as crianças da sinfônica e vai se apresentar na Sala São Paulo --a história detalhada está no www.catracalivre.com.br.

É uma lição para celebridades como Ivete Sangalo e Caetano Veloso, entre outras celebridades brasileiras, que vem conseguindo dinheiro público para seus shows. Uma das justificativas dadas pelo Ministério da Cultura para aprovar a concessão do benefício à turnê de Caetano Veloso (um benefício totalmente dentro da lei, diga-se), é que Ivete Sangalo, montada nos seus milhões de reais, com plateias cheias, também ganhou --assim como Maria Bethânia.

Todas essas celebridades fariam melhor a elas mesmas e ao país se, como Giulia, pelo menos compartilhassem suas experiências com estudantes.

Enquanto uma menina de classe média se empenha em ajudar uma comunidade, transformando dinheiro privado em ação pública, a Lei Rouanet tem permitido o contrário --dinheiro público voltado a interesses privados.

Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha.

domingo, junho 21, 2009

Espelho nosso

“Por vezes à noite há um rosto

Que nos olha do fundo de um espelho.

E a arte deve ser como esse espelho

Que nos mostra o nosso próprio rosto”

Jorge Luis Borges

Indignação não basta. Não a impunidade, JÁ!


"Não era esta a República com que eu sonhava"
Benjamin Constant - 1890

Mais de um século depois, é como se sua frase continuasse a ressoar entre os milhões de cidadãos que vivem sob o império da lei, sem privilégios e pagando a conta dos "incomuns" de Brasília.

Brasil - Revista Veja
06/09

sábado, junho 20, 2009

Pense

"Deus nos fez perfeitos, ele não escolhe os capacitados. E sim capacita os escolhidos. Fazer ou não algo só depende de nossa vontade e perseverança."

Albert Einstein


Maus-tratos e abandono é crime e está previsto na lei de crimes ambientais, número 9605/98.
A pena pode variar de três meses a um ano. A punição pode ser aumentada de 1/6 a 1/3 em caso da morte do animal.

sábado, junho 13, 2009

Imigração - Um pouco de História

A vinda de imigrantes para o Brasil, ressalvada a presença dos portugueses - colonizadores do País - delineia-se a partir da abertura dos portos às "nações amigas" (1808) e da independência do País (1822). À margem dos deslocamentos populacionais voluntários, cabe lembrar que milhões de negros foram obrigados a cruzar o oceano Atlântico, ao longo dos séculos XVI a XIX, com destino ao Brasil, constituindo a mão-de-obra escrava. Os monarcas brasileiros trataram de atrair imigrantes para a região sul do País, oferecendo-lhes lotes de terra para que se estabelecessem como pequenos proprietários agrícolas. Vieram primeiro os alemães e, a partir de 1870, os italianos, duas etnias que se tornaram majoritárias nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Entretanto, a grande leva imigratória começou em meados de 1880, com características bem diversas das acima apontadas. A principal região de atração passou a ser o estado de São Paulo e os objetivos básicos da política imigratória mudaram. Já não se cogitava de atrair famílias que se convertessem em pequenos proprietários, mas de obter braços para a lavoura do café, em plena expansão em São Paulo. A opção pela imigração em massa foi a forma de se substituir o trabalhador negro escravo, diante da crise do sistema escravista e da abolição da escravatura (1888). Ao mesmo tempo, essa opção se inseria no quadro de um enorme deslocamento transoceânico de populações que ocorreu em toda a Europa, a partir de meados do século XIX, perdurando até o início da Primeira Guerra Mundial. A vaga imigratória foi impulsionada, de um lado, pelas transformações sócio-econômicas que estavam ocorrendo em alguns países da Europa e, de outro, pela maior facilidade dos transportes, advinda da generalização da navegação a vapor e do barateamento das passagens. A partir das primeiras levas, a imigração em cadeia, ou seja, a atração exercida por pessoas estabelecidas nas novas terras, chamando familiares ou amigos, desempenhou papel relevante. Nas Américas, pela ordem, os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil foram os principais países receptores de imigrantes. No caso brasileiro, os dados indicam que em torno de 4,5 milhões de pessoas imigraram para o país entre 1882 e 1934. Destes, 2,3 milhões entraram no estado de São Paulo como passageiros de terceira classe, pelo porto de Santos, não estando, pois, aí incluídas entradas sob outra condição. É necessário ressalvar, porém, que, em certas épocas, foi grande o número de retornados. Em São Paulo, por exemplo, no período de crise cafeeira, (1903-1904), a migração líquida chegou a ser negativa. Um dos traços distintivos da imigração para São Paulo, até 1927, foi o fato de ter sido em muitos casos subsidiada, sobretudo nos primeiros tempos, ao contrário do que sucedeu nos Estados Unidos e, até certo ponto, na Argentina. O subsídio consistiu no fornecimento de passagem marítima para o grupo familiar e transporte para as fazendas e foi uma forma de atrair imigrantes pobres para um país cujo clima e condições sanitárias não eram atraentes. A partir dos anos 30, a imigração em massa cedeu terreno. A política nacionalista de alguns países europeus - caso típico da Itália após a ascensão de Mussolini - tendeu a colocar obstáculos à imigração para a América Latina. No Brasil, a demanda de força de trabalho, necessária para o desenvolvimento industrial, passou a ser suprida, cada vez mais, pelas migrações internas. Habitantes do Nordeste do País e do estado de Minas Gerais abandonaram suas regiões em busca do "el-Dorado paulista". Na década de 30, somente os japoneses, ligados à pequena propriedade agrícola, continuaram a vir em grande número para São Paulo. Em anos mais recentes, a imigração para o Brasil, qualitativamente, diversificou-se bastante. Novas etnias se juntaram às mais antigas, como é o caso da imigração de países vizinhos - Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia etc. - tanto por razões profissionais como políticas. Coreanos passaram a compor a paisagem da cidade de São Paulo, multiplicando restaurantes e confecções. Após os primeiros anos de dificuldades extremas, que não foram muito diversas das que atravessaram em outros países, os imigrantes acabaram por se integrar à sociedade brasileira. Em sua grande maioria, ascenderam socialmente, mudando a paisagem sócio-econômica e cultural do Centro-sul do Brasil. No Sul, vincularam-se à produção do trigo, do vinho, e às atividades industriais; em São Paulo, impulsionaram o desenvolvimento industrial e o comércio. Nessas regiões, transformaram também a paisagem cultural, valorizando a ética do trabalho, introduzindo novos padrões alimentares e modificações na língua portuguesa, que ganhou palavras novas e um sotaque particular. Os imigrantes europeus, do Oriente Médio e asiáticos (portugueses, italianos, espanhóis, alemães, judeus, sírios e libaneses, japoneses) influenciaram a formação étnica do povo brasileiro, sobretudo na região Centro-sul e Sul do País. Tendo em conta as contribuições de índios e negros, disso resultou uma população etnicamente diversificada, cujos valores e percepções variam de um segmento a outro, no âmbito de uma nacionalidade comum.


Alemães
Espanhóis
Italianos
Japoneses
Judeus
Portugueses
Sírios e Libaneses

As verdadeiras mulheres felizes - Martha Medeiros

"Acabo de ler um livro de Eliette Abecassis, uma francesa que eu não conhecia. O nome da obra, no original, é Un Heureux Événement, que pode ser traduzido para Um Feliz Acontecimento, mas é um título irônico, pois o livro trata sobre o fator que, segundo a autora, destrói as relações amorosas: o nascimento de um filho. Num tom exageradamente desesperado, a personagem narra o fim do seu casamento depois que dá à luz. Concordo que a chegada de uma criança muda muita coisa entre o casal, mas a escritora carrega nas tintas e cria um quadro de terror para as mães de primeira viagem. Se o nascimento de um filho é sempre desconcertante, é preciso lembrar que é, ao mesmo tempo, uma emoção sem tamanho. De minha parte, só tenho bons momentos a recordar, nada foi dramático. Mas mesmo que, por experiência própria, eu não compartilhe com a desolação da autora, ainda assim ela diz no livro uma frase muito interessante. Ao enumerar as diversas mazelas por que passam as criaturas do sexo feminino, ela me veio com esta: "os homens são as verdadeiras mulheres felizes".Atente para a sutileza da frase. O que ela quis dizer? Que os homens saem pela porta de manhã e vão trabalhar sem pensar se os filhos estão bem agasalhados ou se fizeram o dever da escola. Os homens não menstruam, não têm celulite, não passam por alterações hormonais que detonam o humor. Os homens não se preocupam tanto com o cabelo e não morrem de culpa quando não telefonam para suas mães. Os homens comem qualquer coisa na rua e o cardápio do jantar não é da sua conta, a não ser quando decidem cozinhar eles próprios, e isso é sempre um momento de lazer, nunca um dever. Os homens não encasquetam tanto, são mais práticos. Eu, que estou longe de ser uma feminista e mais longe ainda de ser ranzinza, tenho que reconhecer o brilhantismo da frase: os homens são mulheres felizes. Eles fazem tudo o que a gente gostaria de fazer: não se preocupam em demasia com nada.Porque nosso mal é este: pensar demais. Nós, as reconhecidas como sensíveis e afetivas, somos, na verdade, máquinas cerebrais. Alucinadamente cerebrais. Capazes de surtar com qualquer coisa, desde as mínimas até as muito mínimas. Somos mulheres que nunca estão à toa na vida, vendo a banda passar, e sim atoladas em indagações, tentando solucionar questões intrincadas, de olho sempre na hora seguinte, no dia seguinte, planejando, estruturando, tentando se desfazer dos problemas, sempre na ativa, sempre atentas, sempre alertas, escoteiras 24 horas.Os homens, mesmo quando muito ocupados, são mais relax. Focam no que têm que fazer e deixam o resto pra depois, quando chegar a hora, se chegar. Não tentam salvar o mundo de uma tacada só. E a chegada de um filho, ainda que assuste a eles, como assusta a todos, é algo para se lidar com calma, é um aprendizado, uma curtição, nada de muito caótico. Eles não precisam dar de mamar de duas em duas horas, não ficam fora de forma, não enlouquecem. Isso é uma dádiva: os homens raramente enlouquecem.Nós, nem preciso dizer. Nascemos doidas. Por isso somos tão interessantes, é verdade, mas felicíssimas, só de vez em quando, nas horas em que não nos exigimos desumanamente. Homens, portanto, são realmente as verdadeiras mulheres felizes. Que isso sirva de homenagem aos queridos, e sirva pra rir um pouco de nós mesmas, as que se agarram com unhas e dentes ao papel de vítimas porque ainda não aprenderam a ser desencanadas como eles."

quinta-feira, junho 11, 2009

O ex-traficante que acabou na USP

Pelo relatório que acaba de ser divulgado pelo Unicef, Marcos Lopes tinha o perfil perfeito para ficar fora da escola e, mais do que isso, estar preso ou morto: negro, favelado, morador de uma região violenta, ex-assaltante e ex-traficante de droga. Era improvável que acabasse escritor e frequentando a USP. Trechos de seu livro estão no site Catraca Livre.
A maioria dos jovens, mesmo sem entrada no crime, tem dificuldades para concluir o ensino médio, como enfatizou o relatório. E, aqui, está a combinação mais explosiva do país: jovens desocupados e sem qualificação vivendo nas grandes cidades, onde o crime arregimenta sua mão de obra.
Com a ajuda de uma entidade não-governamental (Casa do Zezinho), Marcos voltou a estudar, fez faculdade e começou a dar aulas na escola da qual foi expulso por assaltar a cantina e botar fogo.
Como se especializou em intermediação de conflitos para evitar violência, Marcos foi aceito num curso, dentro do campus da USP, de engenharia comunitária, oferecido pela Fundação Vanzolini, ligada à Poli. "Quero replicar depois esse modelo de curso", afirma.
A tragédia do ensino médio no Brasil (e da educação pública em geral) faz de Marcos, que da boca do fumo virou professor e estuda na USP, um belo exemplo, mas uma exceção das exceções e mostra o longo caminho que temos pela frente para ser uma nação civilizada.
Gilberto Dimenstein 10.06.2009
Escreve para a Folha Online

447: a hipocrisia no luto oficial

Quando desapareceu no meio de uma noite chuvosa de domingo, o vôo 447 da Air France saía da história para entrar, de forma avassalante, nas páginas de todos os jornais e telas de todos os noticiários.Justo, justíssimo. Uma catástrofe como essa merece todas as atenções disponíveis. Mas inevitável, visto a proximidade dos eventos e a disparidade de interesse, não compará-la com algo ocorrido uma semana antes. Longe do glamour da rota Rio-Paris, uma barragem mal conservada rompeu matando nove brasileiros no Piauí. Fosse só isso, já seria tragédia suficiente, mas as chuvas que forçaram a barragem já eram responsáveis pela morte de outros 45 brasileiros no norte do país. Fez a conta? Sim, 54 brazucas, um outro vôo 447.Mas não sabemos quem foram estes cidadãos. Não sabemos suas profissões, que cargos ocupavam em seus empregos, não sabemos a linhagem familiar dessa gente, de quem eram filhos ou bisnetos. Não sabemos se havia algum recém-casado, alguém que estava prestes a tirar férias. Aliás, não sabemos sequer se esse povo tira férias, lua-de-mel, se ganham prêmios pelo bom rendimento em suas profissões. Não nos interessamos pelas causas e responsáveis, não vimos plantões nos noticiários, nenhuma programação foi alterada para seguir os esforços de buscas pelos sobreviventes e vítimas fatais. Não sabemos sequer se houve esforço algum. Ou melhor, para não ser injusto, sim houve o deslocamento de uma fragata para apoiar no envio de medicamentos e mantimentos aos ribeirinhos, e vimos também um helicóptero da aeronáutica resgatando os ilhados. Mas nada se compara a frota de navios enviada aos mares de Fernando de Noronha, nem a esquadrilha mobilizada em diversas bases aéreas Brasil afora, em tempo e agilidade pouco usuais. O certo é que não há excesso em Fernando de Noronha, está correta a ação, mas o episódio nos faz pensar sobre as escolhas e sobre como os recursos são utilizados, pois eles existem, como estamos vendo neste momento.Também não se viu pelas vítimas nortistas nenhuma comoção nacional, lágrimas em horário nobre, missa rezada por arcebispo. Nenhuma das vítimas recebeu a visita de um vice-presidente da República, de um Ministro, nem sequer de autoridade maior que se tenha notícia. Será que um vereador apareceu por lá? Não sabemos.Os jornais, irresponsáveis em sua pressa, aprisionados na histeria coletiva em busca do furo de reportagem, da exclusiva, da notícia em primeira mão, e ácidos em suas análises rasteiras, fazem o que parece ser sua especialidade: transformam especulação em fato. “Sarcozy vai ao encontro dos familiares das vítimas, Lula manda o vice”, dizia manchete do O Globo de terça-feira. Para o leitor desatento, poderia parecer pouco caso do governante brasileiro, mas Lula estava já a caminho da posse do presidente de El Salvador, haveria cabimento mudar a agenda naquele momento?Sem peso político, sem o glamour das aeronaves, sem a atenção internacional, os 54 mortos em consequência das chuvas permanecem enterrados no anonimato. Não se sabe se era um lavrador, uma empregada doméstica, ou quem sabe um criador de cabras.O que será que há em um acidente aéreo que o deixa tão midiático, tão celebrável? Será o poder aquisitivo daqueles que trafegam neste serviço de transporte? Pois temos uma série de acidentes com embarcações nos rios da Amazônia, que se repetem a cada ano, com grande número de vítimas fatais, e nem por isso observamos essa mobilização, sequer uma ação para que o transporte fique mais seguro. Nenhuma investigação, nenhuma CPI. O que transforma os acidentes aéreos em algo tão comovente? Ou será a nossa comoção que está sendo formada? Exasperada pelo excesso de informação e presença nos noticiários? Quem deixamos manipular os nossos sentimentos? Quem privilegiamos com nossas lágrimas? Quem influencia na formação da nossa opinião, e como isso vai guiar nossas decisões ao longo da vida, sejam elas de consumo, políticas ou sentimentais?São mais tantas interrogações a adicionar a um caso já tão cheio de perguntas não respondidas.

segunda-feira, junho 08, 2009

Continua a matança de cães em campus da UFRGS

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?channel=44&contentID=65361&uf=1

domingo, junho 07, 2009

Lavar as mãos ajuda a saúde

Eu, hoje....

A silhueta é a mesma de quando eu tinha 20 anos.
Vestida, naturalmente'

Continua a matança de cães em campus da UFRGS

Alegria, o cãozinho que apareceu na reportagem que o Jornal do Almoço (RBSTV de 25.05.09) levou ao ar sobre maus-tratos e mortes de cães no Campus do Vale da UFRGS, foi encontrado morto, sábado, dia 07/05.
Neste dia, por volta das 19h30min, seu cuidador e amigo, Prof. Renato, recebeu um telefonema de um segurança da universidade informando que o corpo do animal tinha sido encontrado próximo ao ambulatório do professor. Segundo informação do professor, às17h45min quando saiu do ambulatório, Alegria estava muito bem, foi alimentado e ficou no local. Será encaminhado à necropsia e exames toxicológicos.

Como pode acontecer dentro do campus de uma universidade como a UFRGS?
E a universidade não faz nada para conter a barbárie.
NADA!

Vídeo sobre mudanças climáticas

O vídeo sobre mudanças climáticas, produzido pelo projeto de extensão Clube de Criação/Caixola da FABICO para a maratona internacional Young Lions/OXFAM, ficou entre os cinco finalistas da competição. O trabalho foi um dos mais acessados no site YouTube. Um juri fará agora a avaliação pelo critério de criatividade, dando prêmios a dois vídeos e viagem para participação do Festival Internacional de Publicidade de Cannes/França ao representante de cada grupo no final de junho de 2009.
A produção dos alunos de publicidade da UFRGS ainda pode ser vista no link relacionado abaixo.

sábado, junho 06, 2009

Causos do frio

Zero Hora 06.05.2009
Antonio Augusto Fagundes
O frio está aí. De vez em quando o vento minuano aparece e quando chega só vai embora depois de três dias e três noites. É um frio de renguear cusco! Quando eu era guri, no Ijiquiquá – interior de Uruguaiana – o inverno era de rachar, naquela pampa estendida, sem proteção natural. A geada realmente envidraçava os campos, e a gurizada saía – muitas vezes de pé descalço, vejam só! – para botar as vacas ou para procurar bosta seca para o fogo de galpão.Ao redor do fogo de chão ou do grande fogão de ferro das cozinhas das estâncias, os causos surgiam, às vezes mentiras cabeludas. João Simões Lopes Neto transformou o contador de causos Romualdo num baita mentiroso, tipo Barão de Münchausen, o maior “queimador de campo” que já existiu. Pois não vê que diz que quando o Romualdo era cadete acampou com um companheiro num raso de campo em pleno inverno num frio de rachar pedra. O cadete queria fazer um churrasco, mas onde achar um pedaço de madeira para espeto? Procura daqui, procura dali, o Romualdo achou um espeto ideal, com uns três palmos de tamanho, fino, forte e pontudo. Espetou a manta de carne e cravou o espeto na beira do fogo. Daí a pouco o companheiro lhe gritou: “acuda, cadete Romualdo, que o seu churrasco se vai embora!”. Sabe o que tinha acontecido? O Romualdo tinha espetado o churrasco com uma cobra congelada! Ao calor do fogo, ela descongelou e se mandou com o churrasco nas costas.Eu mesmo fiquei famoso num inverno no Alegrete quando inventei a “pesca de serrote”. Hoje é muito conhecida por lá, no inverno todo mundo pesca assim, mas quase ninguém sabe que eu fui o inventor da modalidade. Não vê que no inverno o rio Ibirapuitã muitas vezes congela em vários pontos. As pessoas podem caminhar e até patinar como os americanos por cima do gelo. Os peixes ficam imobilizados dentro do gelo. Numa dessas feitas, quando eu era rapazote, passeando por cima do rio congelado, vi um belo grumatã parado a meio metro da superfície. Que quê eu fiz? Fui em casa, busquei um serrote e um saco de estopa com alguma serragem dentro. Voltei para cima do grumatã e – rac,rac,rac – serrei o bloco de gelo que tinha o peixe dentro, rebolquei na serragem e guardei no saco. Caminhei mais um pouco – uma traíra. Caminhei um pouco mais – um douradito de dois palmos. E assim fui conseguindo jundiás, piavas e até uma tartaruga verdolenga que eu trouxe para criar guaxa no poço de casa. Estava inventada a “pesca do serrote”.Agora, com esse frio louco que anda por aí, jogo que tem gente de serrote nas mãos por lá. E ainda usam um recurso que eu não usava: luva. Comigo era na mão limpa!Parece mentira, não é mesmo?

Você sabe quem é?

Como disse certa vez a escritora Clarice Lispector:

“É curioso como não sei dizer quem sou.
Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer.
Sobretudo, tenho medo de dizer.
Porque no momento em que tento falar,
não só não exprimo o que sinto
como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo”

Por que tantas pessoas não gostam de aprender?

Ao Luciano Pires

"Este é um dos motivos que me fazem amar ler seus artigos e recomendá-los para amigos: você muda pontos de vista. Eu não sei sua religiosidade, mas eu na minha creio que se podemos pensar num infinito de números ou de espaço, podemos crer em um ser infinito. E eu creio que este ser se alegra quando estudamos, trabalhamos e fazemos tudo aquilo que é bom não apenas para nós mesmos, mas para outros. Sou grato a você e creio que este ser de mesma forma deveria se alegrar com suas palavras. Agora, voltando ao assunto, o mais curioso é que creio que tudo o que você falou neste texto é relacionado com um dos grandes mistérios que eu sempre tive na minha vida, desde pequeno: "Por que tantas pessoas não gostam de aprender?"Estudar enobrece o mais importante orgão de nosso corpo. A mente humana foi concebida (seja pela evolução, seja pela criação) para ser um instrumento de diferencial acima dos outros seres. Outro detalhe é que em um mundo que requisita de nós mais potencial e mais lucro a cada momento, buscando otimizar produtividade e organização, pensar em entretenimento como o simples ócio de trocar tempo por um egoísta bem-estar é ao meu ver inadimissível.Eu sou formado em Tecnologia da Informação, e dias atrás eu estive de férias numa cidadela na Toscana italiana chamada Lucca. Neste lugar o governo mantém um dos arquivos mais antigos da europa, com documentos datados do ano de 700DC, alguns assinados por reis, papas e grandes figuras da história. Graças a um grande amigo que trabalha neste local eu e minha esposa fomos convidados a visitar este acervo, e nos maravilhamos com a riqueza de informação cultivada e guardada tão preciosamente. Talvez uma ótima forma de matar tempo, ou mesmo uma chatice para muitos que não gostam de coisas velhas, mas eu vi algo que talvez outras pessoas não vejam: como profissional de TI hoje as pessoas vivem falando ao meu redor sobre segurança de informação. Mas isso não é algo de agora, pois desde muito tempo que a informação é algo que deveria ser bem guardado. O prédio deste arquivo é justamente ao centro da cidadela, que é cercada por uma muralha. Isso pra mim é entretenimento: quando uma pessoa usa algo mais simples ou mais espetacular para criar crescimento mental. Pra um físico, até futebol tem suas lições.
Obrigado por mais uma vez me fazer mais inteligente!
Abraços, Rony Fagundes
"O impossível de hoje é a tecnologia do amanhã."

Big Brother Brasil educa

Numa discussão sobre o Big Brother Brasil - que a cada edição bate recordes de audiência - provoquei várias caretas ao dizer que considero o programa uma oportunidade fantástica de aprendizado. Quase apanhei. Mas expliquei que tudo depende de como o espectador encara o programa.

Se você procura mais que simples entretenimento, consegue assistir o BBB de olho no impacto e influência de cada participante sobre os demais. Ah, eles são vazios? São. Mas são gente como a gente. Você tem ali uma inestimável aula de antropologia, de sociologia, de política, com exemplos claros de como funciona a vida em sociedade. Verá os conflitos, as intrigas, a dissimulação, as mentiras, a manipulação, a generosidade, o medo - todos aqueles pequenos truques, pecados e atitudes com os quais convivemos no dia-a-dia. Está tudo ali, exposto pra quem quiser ver. E aprender. Assistindo o Big Brother Brasil como uma vitrine de comportamento você aplicará seu tempo em aprendizado.

Mas se você escolher assistir o BBB como mero entretenimento, ou pra ver as bundas das moças ou os muques dos moços, quem fica com quem,
quem fica bêbado ou uma baixaria qualquer, terá aplicado seu tempo apenas em fofoca.

O Big Brother Brasil só é um sucesso estrondoso de audiência por explicitar claramente nossas fraquezas e atender àquele irresistível impulso que todos temos para o "voyeurismo": o espiar os outros sem ser notado. Quem escolhe se vai aprender com isso é você.

Bem, antes que venham as pedradas, deixa eu dizer onde começou esta reflexão:

li num artigo recente que somente dez por cento da população tem disposição para aprendizado. São as pessoas que vão atrás, que gostam, que sentem prazer em aprender. Os outros noventa por cento nunca vão se importar em ampliar seus conhecimentos e habilidades até que sejam obrigados a isso, por pressão do trabalho por exemplo.

Só dez por cento, já pensou? E justamente hoje, quando vivemos naufragados em informação. Nesse cenário é preciso refletir sobre um processo fundamental: o da educação continuada.

Aprender continuamente, estudar continuamente, é a única forma de enriquecer nossa capacidade de análise, de compreensão do mundo e de tomada de decisão. De lutar para não ser eterna vítima de quem sabe como manipular as pessoas. Mas esse "estudar" não deve ser entendido apenas como frequentar uma sala de aula com professor ou mergulhar num livro de matemática. Você pode estudar lendo um romance ou uma história em quadrinhos. Assistindo um filme de aventura. Ouvindo rock. Observando as pessoas que passam pela rua. Ou seus colegas aí ao lado. É a predisposição para aprender que confere aos acontecimentos um sentido pedagógico, sacou? A capacidade pedagógica não está no acontecimento em si, mas na escolha que você faz diante dele. Assim, é possível assistir ao programa do Gugu ou da Luciana Gimenez (nunca inteiros, é verdade), por exemplo. São fantásticas oportunidades de estudar como - através de um rótulo de "entretenimento" - a televisã aliena as pessoas.

"Entretenimento" é desculpa para tudo. Exime quem produz o lixo - no jornal, na revista, no livro, no rádio, na televisão, no teatro, no cinema, na música e na internet -, de qualquer responsabilidade com algo além de "matar o tempo" das pessoas. Um pecado...

No entanto, o dono de seu tempo é você. Você escolhe o que fazer com ele. Você escolhe para quem vai dar atenção. Você escolhe seu olhar.

O Big Brother Brasil é um projeto milionário muito bem sucedido. Por mais que você esperneie, vai continuar no ar, batendo recordes até a
fórmula se esgotar. "Matará o tempo" de 90% das pessoas que o assistem.

Mas os 10% dispostos a aprender farão dele uma aula.


Luciano Pires
062009


"Por que não vão defender as crianças com fome?


Quem faz esta pergunta admite que existem dois tipos de pessoas no mundo:

As Pessoas Que Ajudam e as Pessoas Que Não Ajudam.

Além disso, admite também que faz parte das Pessoas Que Não Ajudam, afinal, do contrário, diria "Por que não me ajudam a defender as crianças com fome?", ou "Venham defender comigo as crianças com fome!", ou "Não, obrigada, vou defender as crianças com fome".
Então ela se coloca claramente através de sua escolha de palavras como uma Pessoa Que Não Ajuda.
É curioso a Pessoa Que Não Ajuda, não faz nenhum esforço para ajudar, mas, sim, para tentar dirigir as ações das Pessoas Que Ajudam.
É bastante interessante. Se eu fosse até sua casa organizar sua vida financeira sob a alegação de que eu sei muito mais sobre administração familiar eu estaria interferindo, mas ela se sente no direito de interferir nas ações que uma pessoa resolve tomar para aliviar os problemas que ela encontra ao seu redor.
É uma Pessoa Que Não Ajuda, mas ainda assim quer decidir quem merece ajuda das pessoas Que Ajudam e o nome disso é "prepotência".


Pessoas Que Ajudam nunca vão ajudar as "crianças com fome".

Nem tampouco os "velhos", os "doentes" ou os "despossuídos". E sabe por que?

Porque "crianças com fome" ou "velhos" ou qualquer outro destes é abstrato demais. Não têm face, não são ninguém. São figuras de retóricas de quem gosta de comentar sobre o estado do mundo atual enquanto beberica seu uisquezinho no conforto de sua casa.
Pessoas Que Ajudam agem em cima do que existe, do que elas podem ver, do que lhes chama atenção naquele momento. Elas não ajudam "os velhos", elas ajudam "osvelhos do asilo X com 50,00 reais por mês". Elas não ajudam "as crianças com fome", elas ajudam "as crianças do orfanato Y com a conta do supermercado". Elas não ajudam "os doentes", elas ajudam o "Instituto da Doença Z com uma tarde por semana contando histórias aos pacientes".
Pessoas Que Ajudam não ficam esperando esses seres vagos e difusos como as "crianças com fome" baterem na porta da sua casa e perguntar se elas podem lhe ajudar. Pessoas Que Ajudam vão atrás de questões muito mais pontuais.Pessoas Que Ajudam cobram das autoridades punição contra quem maltrata uma cadela indefesa sem motivo.Pessoas Que Ajudam dão auxílio a um pai de família que perdeu o emprego e não tem como sustentar seus filhos por um tempo.Pessoas Que Ajudam tiram satisfação de quem persegue uma velhinha no meio da rua.Pessoas Que Ajudam dão aulas de graça para crianças de um bairro pobre.Pessoas Que Ajudam levantam fundos para que alguém com uma doença rara possa ir se tratar no exterior.Pessoas Que Ajudam não fogem da raia quando vêem QUALQUER COISA onde elas possam ser úteis.
Quem se preocupa com algo tão difuso e sem cara como as "crianças com fome" são as Pessoas Que Não Ajudam.
Pessoas Que Ajudam são incrivelmente multitarefa, ao contrário da preocupação que as Pessoas Que Não Ajudam manifestam a seu respeito. (Preocupação até justificada porque, afinal, quem nunca faz nada realmente deve achar que é muito difícil fazer alguma coisa, quanto mais várias).O fato de uma pessoa Que Ajuda se preocupar com a punição de quem burlou a lei e torturou inutilmente um animal não significa que ela forçosamente comeu o cérebro de criancinhas no café da manhã. Não existe uma disputa de facções entre Pessoas Que Ajudam, tipo "humanos versus animais".Geralmente as Pessoas Que Ajudam, até por estarem em menor número, ajudam várias causas ao mesmo tempo. Elas vão onde precisam estar, portanto muitas das Pessoas Que Ajudam que acham importante fazer valer a lei no caso de maus-tratos a um animal são pessoas que ao mesmo tempo doam sangue, fazem trabalho voluntário, levantam fundos, são gentis com os menos privilegiados e batalham por condições melhores de vida para aqueles que não conseguem fazê-lo sozinhos.Talvez você não saiba porque, afinal, as Pessoas Que Ajudam não saem alardeando por aí quando precisam de assinaturas para dobrar a pena para quem comete atrocidades contra animais, que estão fazendo todas estas outras coisas, quase que diariamente. E acho que é por isso que você pensa que se elas estão lutando por uma causa que você "não curte", elas não estão fazendo outras pequenas ou grandes ações para os diversos outros problemas que elas vêem no mundo. Elas estão, sim. E se fazem ouvir como podem, porque sempre tem uma Pessoa Que Não Ajuda no meio para dar pitaco.Então, como dizia meu avô, "muito ajuda quem não atrapalha". Porque a gente já tem muito trabalho ajudando pessoas e animais que precisam (algumas até poderiam ser chamadas tecnicamente de "crianças com fome", se assim preferem os que não ajudam).
Esta pergunta é típica de quem não faz nada por ninguém nem por causa alguma.
Como dizia o Barão de Itararé “de onde menos se espera é que não sai nada mesmo”.

sexta-feira, junho 05, 2009

Animais Maltratados


"A cada dia que passa, fico mais perplexa com a capacidade humana de maltratar os animais. O descaso da UFRGS com os animais me deixa mais perplexa ainda. Me pergunto que tipo de educação ambiental e humana a instituição está transmitindo aos seus alunos.


Zenair Maria Sebben - Psicóloga – Passo Fundo"

Carta do Leitor - Jornal Zero Hora (RS) - 05.06.2009

quinta-feira, junho 04, 2009

Uma lição que veio do fogo

Exatamente um ano depois de sofrer um grave acidente, o empresário catarinense Guido Bretzke conta o que mudou em sua vida pessoal e profissional desde o episódio.
E desabafa: "Sinto-me abençoado por ter sido queimado"

Outubro de 2007. Nova Lima, Minas Gerais.
Era para ser mais um entre tantos congressos que o empresário Guido Bretzke estava acostumado a participar. Aos 39 anos, o herdeiro da Bretzke Alimentos e presidente da GPS Gestão Empresarial - empresa que comanda as operações da Bretzke e da Sasse Alimentos, ambas de Jaraguá do Sul (SC) - viu sua vida mudar de uma hora para a outra. Por mais incrível que possa parecer, para melhor. "No coquetel de final do dia, o garçom foi repor álcool no rechaud, e eu estava me servindo. Quando abri os olhos, só vi aquele azul do fogo... nem sabia que era eu que estava queimando", conta Guido.
Hoje, ele relata com bom-humor que a primeira coisa em que pensou foi sair correndo do local, mesmo machucado, "porque tinha uma agenda repleta de compromissos". A insana vontade logo foi substituída pelo medo de morrer. "Pensei: pronto, vou pro hospital e, em dois ou três dias, entro em coma e morro", diz ele. Nem dois, nem três. Guido ficou internado em Belo Horizonte por 16 dias, recuperando-se das sérias queimaduras que atingiram 15% de seu corpo - especialmente o rosto.
No hospital, Guido Bretzke viu sua rotina mudar radicalmente. O ritmo alucinante de viagens e compromissos havia sido interrompido de maneira brusca. Ele, que capitaneava todos os passos da GPS na administração da Bretzke e da Sasse, viu-se obrigado a deixar que o barco fosse tocado apenas por seus subordinados. "No hospital, eu tinha laptop, me comunicava via Messenger, já que por telefone não podia porque havia queimado as orelhas, mas eu nem trabalhei, era só bate-papo, a equipe assumiu a coisa toda", conta. Funcionários, parceiros e clientes foram orientados a não enviar nem mesmo e-mails a ele. A primeira impressão, conta, foi de receio: "De pronto, me questionei como é que fulano vai comprar um caminhão sem me consultar". Mas a insegurança durou pouco tempo. A confiança nas pessoas com quem trabalha acabou falando mais alto. "A cada dia, descubro situações que eles acabaram administrando, porque sabiam o caminho que a empresa tinha que seguir, as estratégias, os valores. Houve todo um cuidado da equipe para me manter afastado das operações", revela.
Guido conta que retornou para Jaraguá do Sul transformado. Depois de ver que tudo corria bem durante sua ausência, decidiu dar uma guinada no modus operandi. "Definitivamente, mudei minha agenda". Quando recuperado, o empresário aceitou um convite para assumir a presidência da Associação Comercial e Industrial de Jaraguá do Sul. "Passei a delegar mais, cobrar mais e executar menos. Minha vida ficou mais organizada e consigo fazer muito mais coisas do que fazia antes", diz ele.
Ir à academia diariamente. Treinar para a corrida de São Silvestre - sim, Guido já participou de cinco edições, inclusive no ano passado, apenas dois meses depois do acidente. Liderar uma associação empresarial. Aproveitar as férias junto à família. Comandar uma empresa fatura mais de R$ 100 milhões por ano e têm cerca de 2 mil funcionários. Depois da "explosão", Guido diz que passou a arranjar tempo para todas estas coisas. "Consolidei um desejo que todo manual de gestão de tempo apresenta, mas muito pouca gente consegue transformar a teoria em prática", orgulha-se.
Ensinamentos que vão além
Luterano, o religioso Guido Bretzke diz que seu acidente não veio ao acaso: "Sinto-me abençoado por ter sido queimado, minha vida mudou tanto". É verdade. Como se não bastasse a guinada no modo de trabalhar e de encarar os fatos, o empresário está usando sua rede de contatos profissionais para levar uma causa social adiante: evitar acidentes domésticos.
A idéia, ele conta, surgiu de uma conversa com o cirurgião plástico Carlos Eduardo Leão, quando ainda estava internado no hospital em Minas Gerais. O médico relatou a Guido que, no Brasil, cerca de 1 milhão de pessoas sofrem acidentes domésticos por ano, e que, no geral, metade destes acidentes são fáceis de serem evitados. "Ele me disse que queria fazer uma cartilha para conscientizar as crianças, prevenir estes acidentes", explica. Com a idéia incrustada em sua mente, pouco tempo depois de recuperado, Guido Bretzke comentou o fato com alguns amigos empresários durante uma reunião da YPO (sigla em inglês para Associação de Jovens Presidentes), uma associação sem fins lucrativos que reúne donos e presidentes de algumas das maiores empresas do mundo.
Na mesma hora em que Bretzke discorria sobre a idéia do cirurgião plástico, Giem Guimarães, presidente da Posigraf, se comprometeu em imprimir gratuitamente as cartilhas. Já Giuliano Donini, da Marisol, garantiu a fabricação de camisetas da campanha - também sem custo algum. Com meio caminho andado, Guido foi até o médico Leão, que, por meio de um amigo, chegou ao cartunista Maurício de Sousa e conseguiu os direitos autorais dos personagens da Turma da Mônica para ilustrar os gibis.
De saída, foram confeccionados 50 mil. O número logo foi multiplicado por trinta, quando o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, comprou 1 milhão de cartilhas e o governo de Santa Catarina encomendou mais 600 mil. Bretzke e os outros empresários vibraram. O projeto, que, inicialmente, previa a impressão de 1,2 milhão de gibis em dois anos, em bem menos tempo chegou a quase 2 milhões de unidades. "Uma pessoa queimada custa para um hospital R$ 30 mil, valor esse que paga 75 mil cartilhas", explica.
Além de querer levar suas cartilhas "a todo mundo", Guido Bretzke já confabula a fundação de uma ONG voltada à prevenção de acidentes domésticos. "O projeto está apenas em gestação, mas tem que sair meio logo para que a idéia não morra", diz, esperançoso na busca de parceiros para tocar a nova empreitada.