Todo mundo sabe que a sobrevivência da espécie humana depende da boa
vontade das mulheres, isto é, da nossa disposição para gerar, gestar,
parir e amamentar novas pessoas. A humanidade depende não só da boa
vontade, mas também de uma certa ignorância. Por isso não se fala
muito dos perrengues pelos quais a mulher passa a partir do momento em
que se descobre grávida. Nós não queremos fazer você desistir, mas não
estamos a fim de participar do complô. Então, vamos revelar agora um
pouco do que sua mãe, sua obstetra e suas amigas provavelmente estão
evitando comentar:
- A gravidez não é bem um período mágico em que você ganha um brilho
especial. Aliás, pode até ser que você ganhe um brilho especial: o
brilho do suor de carregar todo esse peso extra em pleno calor
tropical. E possivelmente vai ganhar também um humor completamente
instável - fazendo você chorar por qualquer bobagem -, azia, gases,
estrias e uma vontade constante de fazer xixi. Mágico? NOT.
- Mas não se iluda: a gravidez é só um preparativo para o que vem
pela frente. Uma hora ela chega a termo, e aí vem o nascimento do
bebê: um evento bem mais escatológico do que você imagina. Envolve
cheiros estranhos, gosmas esquisitas, sangue e muita, muita dor.
- Essa já é clássica: a camisola da maternidade. É uma vestimenta que
te dão para deixar bem claro que, naquele momento, não existe a MENOR
possibilidade de você ser considerada uma pessoa digna, íntegra e
interessante por alguém. Nem por você mesma.
- É bom que fique claro também que, ao contrário do que mostram
muitas capas de revista por aí, você não sai magra da maternidade. Nem
fica magra dois meses depois. A não ser que você passe muita fome (o
que não é legal) ou que alguém passe horas e horas retocando sua
silhueta no photoshop.
- Outra informação subestimada: criança usa fralda por muito tempo.
Não estamos falando muito tempo do tipo "meses", não. São no mínimo
uns dois anos, trocando três ou quatro fraldas por dia. Faça as
contas: você tem umas 3.000 trocas de fraldas pela frente. E quando
ela finalmente aprender a usar o banheiro, não pense que o trabalho
sujo acabou. Prepare-se para outros bons anos sendo chamada ao recinto
cada vez que o serviço estiver completo, com o famoso grito de ordem
infantil: "Mãããããããe, acabei!".
- Uma que talvez você até já tenha escutado antes: criança dá
trabalho. Mas peraí, você não entendeu: é muito trabalho. Você fica
esgotada fisicamente, mentalmente, emocionalmente. Ah, e
financeiramente. Porque, além de trabalho, elas dão muita despesa.
- Aliás, falando em dinheiro, um dia a licença-maternidade acaba e
você provavelmente vai precisar voltar a trabalhar. Isso pode ser até
bom, afinal muitas mães descansam ficando até mais tarde no
escritório. Ou não. Você vai ter que encontrar alguém ou alguma creche
de confiança para ficar com o seu bebê. Vai sentir saudade, e um pouco
de culpa também.
- Finalmente, esteja preparada para virar "A Mãe". Assim mesmo, com
maiúscula e tudo. Porque "A Mãe" é um dos arquétipos mais fortes da
cultura humana: aquele ser abnegado, sempre serena e sorridente, que
abre mão de qualquer resquício de individualidade e vontade própria
pelo bem da prole. Mesmo no século XXI as pessoas ainda acham que só
"A Mãe" sabe / deve / pode cuidar direito da criança. Haja
disponibilidade. Ou vocação para santa.
- Mas, se é tudo tão difícil assim, como é que o planeta tem hoje
mais de 6 bilhões de pessoas? Sinceramente, não sabemos explicar. A
única coisa que a gente sabe é que, se nos fosse permitido voltar no
tempo, passaríamos por tudo isso novamente. Vai entender as
mulheres...
Juliana Sampaio e Laura Guimarães
autoras do livro "Mothern”, que inspirou a série de TV, contam o que
nenhuma mãe tem coragem.