Brasileiro,um otimista inveterado.
Zero Hora/RS 14.0908
Brasileiro: Sou feliz!
Pesquisa feita em 132 países mostra que o brasileiro é um otimista inveterado
O pedreiro Aramis Siqueira, 23 anos, mora em uma casa de 40 metros quadrados apenas quarto, banheiro e sala nos fundos do terreno da sogra, em Viamão. Com o salário de cerca de R$ 700, sustenta a mulher, Dominique, e a filha, Yasmin, de três anos. Apesar da vida simples e do aperto financeiro, comuns aos seus colegas operários, conta sua história com um sorriso sempre por escapar. Considera-se um sujeito feliz.O brasileiro em geral, apesar das dificuldades econômicas, é um otimista inveterado. Comparação feita pela Fundação Getulio Vargas entre dados de 132 países, apurados pelo Instituto Gallup, demonstrou que nenhum outro povo projeta tanta alegria no futuro quanto o tupiniquim. De zero a 10, os entrevistados acreditam que terão um nível de felicidade de 8,78 daqui a cinco anos. Logo atrás estão Venezuela (8,52), Dinamarca (8,51) e Irlanda (8,32). Já quando o assunto é felicidade presente, o Brasil está na 22ª colocação, em um descompasso com o produto interno bruto per capita ajustado a poder de compra, que coloca o país na 52ª colocação.Os nórdicos no topoIsso quer dizer que dinheiro não compra felicidade? Não é bem assim. De acordo com trabalhos do economista Eduardo Gianetti da Fonseca, a renda influi na percepção de bem-estar até certo ponto, a partir do qual o acréscimo nos ganhos passa a ter pouca relação com esse sentimento. Já a comparação feita pela FGV demonstra uma forte correlação entre PIB per capita e respostas positivas. Tanto que, de modo geral e com algumas exceções como o Brasil, os países pobres estão na rabeira do ranking de felicidade, e os ricos, na dianteira, diz o pesquisador Marcelo Neri, autor do estudo.– No topo estão os países europeus e nórdicos, que muitas vezes se diz que são tristes, devido a altas taxas de suicídio. Mas, quando se pergunta aos dinamarqueses, eles dizem que estão muito felizes – observa.Para Neri, o otimismo brasileiro tem raízes culturais – que explicariam também a presença dos jamaicanos entre os com maior projeção de felicidade. Na obra em que Aramis trabalha, o peso da labuta diária é suavizado pelo bom humor. O pedreiro conta que o trabalho braçal não impede a turma de fazer piadas a qualquer instante. Com um cavanhaque que não vê tesoura há cinco meses, ele mesmo ganhou dos companheiros o apelido de Bin Laden.Mas não é só o bom humor a chave para a felicidade. Neri vê também razões econômicas e sociais. O avanço nessas áreas até 2006, quando a pesquisa de felicidade foi realizada mundialmente, seria um dos determinantes das respostas brasileiras. Em estudo focado nos jovens do país, que são os que projetam mais felicidade futura (9,29), o pesquisador aponta que, entre 1992 e 2006, a renda aumentou 18,26%, enquanto a escolaridade média passou de 6,325 anos de estudo para 9,094.– Nos últimos sete anos a desigualdade caiu muito e a incerteza reduziu, e isso pode estar ligado com essa alta felicidade futura – diz Neri.Aramis completou o primeiro grau e ainda fez cursos técnicos na área de construção civil por dois anos. Mesmo assim, passou pelo menos um ano e meio desempregado. Em novembro passado, no entanto, ficou sabendo da construção do bairro Jardim Europa, na Capital, e levou os documentos.– Fui contratado no mesmo dia. De lá para cá, já tive duas promoções. Melhorou muito. Não tenho porque não ser feliz – diz.Muitos pesquisadores, no entanto, vêem com ceticismo as pesquisas que levam em conta o sentimento pessoal de felicidade.
A coordenadora do programa de pós-graduação em economia da PUCRS, Izete Bagolin, acredita que os dados objetivos são mais relevantes para se avaliar o bem-estar da população.
A utilização apenas da percepção de felicidade poderia levar a avaliações equivocadas sobre as condições de vida no país.
No caso dos brasileiros, ela avalia que as respostas refletem mais uma capacidade de adaptação a condições negativas do que o bem-estar da população.
– A população já está tão adaptada à situação inóspita, difícil, insegura de vida, que por estar viva já se sente feliz.
As pessoas se contentam com o pouco que têm – afirma Izete.O pai de Yasmin não precisa mesmo de muito para ser feliz.
Estar em casa, jogando videogame (sua primeira aquisição depois da contratação) com a família, basta. Pergunte a Aramis que nota ele dá para sua felicidade hoje e confirme:
– Dez!
O que contribui para a felicidade
Felicidade e economia andam cada vez mais juntas. Desde que o psicólogo Daniel Kahneman ganhou o prêmio Nobel de Economia, com teorias que apontavam que o comportamento econômico não era tão racional como se supunha, os estudos que levam em conta aspectos subjetivos ganharam força. Uma das pesquisadoras que se debruçou sobre a correlação entre aspectos econômicos e sociais e o sentimento de felicidade foi a economista Sabrina Vieira Lima, em dissertação de mestrado da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo publicada ano passado. Confira quais fatores o estudo apontou como relacionados a uma sensação maior de felicidade.
Quem se diz mais feliz
Os empregados
Os de maior renda
Os casados
Os homens
Brasileiro: Sou feliz!
Pesquisa feita em 132 países mostra que o brasileiro é um otimista inveterado
O pedreiro Aramis Siqueira, 23 anos, mora em uma casa de 40 metros quadrados apenas quarto, banheiro e sala nos fundos do terreno da sogra, em Viamão. Com o salário de cerca de R$ 700, sustenta a mulher, Dominique, e a filha, Yasmin, de três anos. Apesar da vida simples e do aperto financeiro, comuns aos seus colegas operários, conta sua história com um sorriso sempre por escapar. Considera-se um sujeito feliz.O brasileiro em geral, apesar das dificuldades econômicas, é um otimista inveterado. Comparação feita pela Fundação Getulio Vargas entre dados de 132 países, apurados pelo Instituto Gallup, demonstrou que nenhum outro povo projeta tanta alegria no futuro quanto o tupiniquim. De zero a 10, os entrevistados acreditam que terão um nível de felicidade de 8,78 daqui a cinco anos. Logo atrás estão Venezuela (8,52), Dinamarca (8,51) e Irlanda (8,32). Já quando o assunto é felicidade presente, o Brasil está na 22ª colocação, em um descompasso com o produto interno bruto per capita ajustado a poder de compra, que coloca o país na 52ª colocação.Os nórdicos no topoIsso quer dizer que dinheiro não compra felicidade? Não é bem assim. De acordo com trabalhos do economista Eduardo Gianetti da Fonseca, a renda influi na percepção de bem-estar até certo ponto, a partir do qual o acréscimo nos ganhos passa a ter pouca relação com esse sentimento. Já a comparação feita pela FGV demonstra uma forte correlação entre PIB per capita e respostas positivas. Tanto que, de modo geral e com algumas exceções como o Brasil, os países pobres estão na rabeira do ranking de felicidade, e os ricos, na dianteira, diz o pesquisador Marcelo Neri, autor do estudo.– No topo estão os países europeus e nórdicos, que muitas vezes se diz que são tristes, devido a altas taxas de suicídio. Mas, quando se pergunta aos dinamarqueses, eles dizem que estão muito felizes – observa.Para Neri, o otimismo brasileiro tem raízes culturais – que explicariam também a presença dos jamaicanos entre os com maior projeção de felicidade. Na obra em que Aramis trabalha, o peso da labuta diária é suavizado pelo bom humor. O pedreiro conta que o trabalho braçal não impede a turma de fazer piadas a qualquer instante. Com um cavanhaque que não vê tesoura há cinco meses, ele mesmo ganhou dos companheiros o apelido de Bin Laden.Mas não é só o bom humor a chave para a felicidade. Neri vê também razões econômicas e sociais. O avanço nessas áreas até 2006, quando a pesquisa de felicidade foi realizada mundialmente, seria um dos determinantes das respostas brasileiras. Em estudo focado nos jovens do país, que são os que projetam mais felicidade futura (9,29), o pesquisador aponta que, entre 1992 e 2006, a renda aumentou 18,26%, enquanto a escolaridade média passou de 6,325 anos de estudo para 9,094.– Nos últimos sete anos a desigualdade caiu muito e a incerteza reduziu, e isso pode estar ligado com essa alta felicidade futura – diz Neri.Aramis completou o primeiro grau e ainda fez cursos técnicos na área de construção civil por dois anos. Mesmo assim, passou pelo menos um ano e meio desempregado. Em novembro passado, no entanto, ficou sabendo da construção do bairro Jardim Europa, na Capital, e levou os documentos.– Fui contratado no mesmo dia. De lá para cá, já tive duas promoções. Melhorou muito. Não tenho porque não ser feliz – diz.Muitos pesquisadores, no entanto, vêem com ceticismo as pesquisas que levam em conta o sentimento pessoal de felicidade.
A coordenadora do programa de pós-graduação em economia da PUCRS, Izete Bagolin, acredita que os dados objetivos são mais relevantes para se avaliar o bem-estar da população.
A utilização apenas da percepção de felicidade poderia levar a avaliações equivocadas sobre as condições de vida no país.
No caso dos brasileiros, ela avalia que as respostas refletem mais uma capacidade de adaptação a condições negativas do que o bem-estar da população.
– A população já está tão adaptada à situação inóspita, difícil, insegura de vida, que por estar viva já se sente feliz.
As pessoas se contentam com o pouco que têm – afirma Izete.O pai de Yasmin não precisa mesmo de muito para ser feliz.
Estar em casa, jogando videogame (sua primeira aquisição depois da contratação) com a família, basta. Pergunte a Aramis que nota ele dá para sua felicidade hoje e confirme:
– Dez!
O que contribui para a felicidade
Felicidade e economia andam cada vez mais juntas. Desde que o psicólogo Daniel Kahneman ganhou o prêmio Nobel de Economia, com teorias que apontavam que o comportamento econômico não era tão racional como se supunha, os estudos que levam em conta aspectos subjetivos ganharam força. Uma das pesquisadoras que se debruçou sobre a correlação entre aspectos econômicos e sociais e o sentimento de felicidade foi a economista Sabrina Vieira Lima, em dissertação de mestrado da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo publicada ano passado. Confira quais fatores o estudo apontou como relacionados a uma sensação maior de felicidade.
Quem se diz mais feliz
Os empregados
Os de maior renda
Os casados
Os homens
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