Bichos meus

terça-feira, março 31, 2009

Liberdade



Você é livre para pensar.
E para agir?

segunda-feira, março 30, 2009

Gatos

"Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive à custa dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso. "Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de “alguém porque precisa gostar para se sentir melhor”. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige. Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano, mas se comporta como um lorde inglês.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em tomo ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e para psicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber. Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas."

Artur da Tavola

domingo, março 29, 2009

Sobre o universo

"Há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana.
E sobre o Universo, não tenho certeza!"

Albert Einstein

"Há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. E sobre o Universo, não tenho certeza!" (Albert Einstein)

sábado, março 28, 2009

Povo legal

Lauahey/Dona Eloá, como é chamada pelos brasileiros, disse que adora o Brasil porque aqui todos aceitam todos. O brasileiro é alegre, dança ao som da música árabe, judaica, africana. Seja a música que for, seja quem for, o brasileiro aceita e faz com que o estrangeiro se incorpore a sua vida.

- É lindo o povo brasileiro, é comovente.


Dona do Restaurante Lubnan (libanes), em Porto Alegre, há vinte anos.

domingo, março 15, 2009

Bendita Palavra - para refletir

Livro de Maria Resende que ela acaba de lançar, tem um poema que reflete a brabeza que é a infância dos meninos de rua, que acabam jogados na violência por falta de opção, por falta de escola, e por que não dizer, por falta de poesia.

"meu futuro tá atrasado
e se não fosse o seu filho
e se fosse outro como eu?
matei porque pude, porque deu
não é um revide, uma vingança
não é pra calar o que doeu

é como o mundo é
- como o meu mundo é
ganhar na foça o que se quer
sem "por favor" nem "obrigado"
o meu futuro já tá muito atrasado

o que eu ia ser não conta mais
não dá mais tempo
tem mil balas encravadas na minha idade
eu sou essa cidade, convulsão e sol na cara

não adianta nem tentar
o que eu sou já tá firmado
o meu futuro agora é coisa do passado"

Por que a água do mar é salgada?

A água dos oceanos é salgada porque contém sais dissolvidos (com concentrações entre cerca de 33 e 37 g por cada quilograma de água do mar) que têm várias origens:
1. As rochas da crosta vão-se desgastando por erosão e há uma parte dissolvida desse material que é transportada para o oceano pelos rios
2. As erupções vulcânicas libertam substâncias voláteis (tais como dióxido de carbono, cloro e sulfato) para a atmosfera, uma parte das quais acaba por ser transportada com a precipitação diretamente para o oceano ou indiretamente através dos rios.
3. As erupções vulcânicas submarinas contribuem fortemente para os íons no oceano.
4. Para além destas fontes naturais, há sais que provêm de poluentes gasosos, líquidos ou sólidos.
Mas para além destas fontes de sais há também sumidouros que consomem parte dos sais dissolvidos: plantas e animais marinhos que usam sais (por exemplo, sílica, cálcio e fósforo) para construir os seus esqueletos ou conchas, sedimentos depositados no fundo do mar e que incorporam alguns sais (por exemplo, potássio e sódio), e ainda outros processos. Mas há um equilíbrio entre as fontes e os sumidouros pelo que a composição da água do mar é essencialmente constante.

Bilac

"Olha estas velhas árvores, mais belas do que as árvores moças, mais amigas, tanto mais belas quanto mais antigas"
Olavo Bilac

O futuro da vida no Planeta


por Helga Winge (Pesquisadora Departamento de Genética – I.B.-UFRGS)
A distribuição geográfica de cada espécie que habita o nosso Planeta, seja de microorganismos, vegetais ou animais, é determinada por uma série de parâmetros do ambiente, que incluem temperatura, quantidade de luz, umidade, espécies competidoras, comensais etc. Somente encontraremos indivíduos de uma dada espécie em locais que oferecem as condições necessárias e suficientes para a sua sobrevivência, crescimento e reprodução.
Nossa espécie, graças ao tipo e grau de inteligência diferente, constitui uma completa exceção a essa regra, uma vez que, há milhares de anos atrás, aprendemos a modificar o ambiente, adaptando-o às nossas necessidades e conveniências.Há cerca de 15.000 anos, "inventamos" a agricultura, quando aprendemos a cultivar e modificar geneticamente as plantas de interesse, selecionando-as no sentido de eliminar características de defesa (espinhos, pêlos urticantes, compostos químicos desagradáveis ou tóxicos etc.) e desenvolvendo características de interesse, tais como frutos maiores e mais palatáveis, sementes que permanecem nas espigas até amadurecerem etc.Os animais foram domesticados, selecionados para redução da agressividade e aumento da docilidade, e, no caso das aves, para aumento do número anual de ovos, etc. Ao longo da nossa história, crescemos em número (somos hoje 6,7 bilhões de pessoas e seremos 9,37 em 2050) e modificamos quase todo o Planeta.
Graças aos avanços científicos, tomamos consciência de que nossa sobrevivência na Terra está fortemente ligada à sobrevivência das outras espécies e que nossos atos, relacionados às alterações no Planeta, podem colocar em risco nossa própria sobrevivência.O fantástico desenvolvimento da Biologia Evolutiva e dos programas de modelagem aplicáveis à Biologia, permitem avaliar os possíveis efeitos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade. Dessa forma, podemos, a partir dos dados climáticos atuais, deduzir tendências de mudanças, e fazer predições bastante acuradas sobre as possíveis conseqüências para a biodiversidade de uma região e do Planeta.O estudo, realizado por Marinez Ferreira de Siqueira em colaboração com Andrew Townsend Peterson, da Universidade do Kansas, EUA, foi publicado na revista Biota Neotropica.Foi estudada a distribuição geográfica de 162 espécies arbóreas do Cerrado brasileiro. O estudo ficou limitado a espécies da distribuição geográfica ampla, utilizando para cada espécie dados obtidos para 30 ou mais localidades de sua ocorrência.
Conhecendo a distribuição geográfica de cada espécie e utilizando a técnica de modelagem de "nicho ecológico", os autores puderam, com auxílio de modelos de circulação existentes (HadCM2), estimar os possíveis efeitos das mudanças climáticas previstas sobre a distribuição geográfica e mesmo a sobrevivência/extinção de cada espécie.O estudo envolveu dois cenários previstos para os próximos 50 anos: um mais conservador (aumento de 0,5% de CO2 por ano) e um menos conservador (aumento de 1% de CO2 /ano). Em todos os casos, os resultados indicaram uma redução de, no mínimo, 50% da distribuição geográfica de cada uma das espécies (muitas com redução de mais de 90% da área atual). Considerando o cenário mais conservador, 18 espécies não teriam área habitável; pelo cenário menos conservador, esse número subiria para 56. Estas espécies seriam extintas. A redução acentuada da área coloca em risco a sobrevivência de uma espécie.Cabe comentar que espécies endêmicas, de distribuição muito restrita - não incluídas no estudo, são muito mais especializadas e, portanto, potencialmente muito mais vulneráveis que as de ampla distribuição. Estas últimas possuem um maior reservatório genético; muitas vezes apresentam ampla "norma de reação": seu genótipo confere a capacidade de viver e adaptar-se a uma gama mais abrangente de ambientes.
Na Nature (8/1/03) foi publicado um artigo sobre o mesmo assunto (Thomas et al.), mas de abrangência muito mais ampla, cobrindo a maioria dos continentes, incorporando dados de muitos autores e incluindo mamíferos, aves, sapos, répteis, borboletas, outros invertebrados e plantas. A área analisada cobre cerca de 20% da superfície terrestre. Para as análises, os autores cunharam a expressão "envelope climático" , que representa as condições nas quais as populações de uma dada espécie persiste frente a seus competidores e inimigos naturais. A distribuição futura de cada espécie, assim, pode ser estimada supondo a permanência do "envelope climático" atual, podendo ser projetada para o futuro. Três cenários climáticos foram considerados para 2050: 1- mudanças mínimas (aumento médio de temperatura: 0,8º a 1,7ºC e de CO2 de 500ppm por volume), 2- cenário de mudanças médias (aumento de 1,8º a 2,0ºC, e de CO2 500-550ppm/v) e 3- cenários de mudanças máximas esperadas (mais de 2,0ºC e de CO2 maior que 550ppm/v).As análises indicam que, no caso de mudanças mínimas, podemos esperar a extinção de cerca de 18% das espécies, no de mudanças médias, cerca de 24% das espécies; no cenário de mudanças extremas, devemos esperar que cerca 35% das espécies serão levadas à extinção.As conclusões dos artigos mencionados podem parecer exageradamente catastróficas. Mas temos que considerar que são projeções feitas a partir de dados atuais, e que oscilações climáticas acentuadas já vêm sendo noticiadas.Devemos considerar que desde a década de 90, numerosas publicações, em revistas científicas de destaque internacional, têm salientado a necessidade da preservação das áreas nativas, especialmente das florestas tropicais, cuja importância transcende a conservação da biodiversidade no Planeta, em vista de sua enorme importância no ciclo das águas. Na RIO'92, foi dado um destaque especial para a conservação da biodiversidade - o que serviu para desencadear a consciência sobre a interação de todas as espécies (inclusive a nossa) e as conseqüências de possíveis desequilíbrios gerados pelas atividades humanas.
Ao contrário da "Revolução Verde", passou-se a buscar maior produtividade por área nas plantas cultivadas e manejo integrado em muitos casos, com o objetivo de alimentar a crescente população humana, com a menor destruição possível de áreas nativas.Já no início do Século 21, outra reunião da ONU finalizou as negociações do "Protocolo de Kyoto", um acordo visando reduzir as emissões de CO2 para a atmosfera, diminuindo o risco de aumento da temperatura.Por essas razões, é importante que os pesquisadores analisem as tendências atuais e as conseqüências prováveis dos nossos atos enquanto houver ainda uma possibilidade de redução desses efeitos catastróficos.
Revista Eco 21, ano XV, Nº 101, março/2005.

Invasões biológicas, uma ameaça à biodiversidade


por Sílvia Ziller - Ambiente Brasil 15.03.2009

As invasões biológicas ainda não constam dos currículos escolares do Brasil, embora já constituam a segunda grande causa de perda de biodiversidade em todo o mundo. Nos Estados Unidos, a área tomada pelas espécies exóticas invasoras aumenta em cerca de 2 mil hectares por dia (cada hectare equivale a uma quadra urbana de 100m x 100m). As invasões e seus custos aumentam em progressão geométrica ao longo do tempo. Por exemplo, uma árvore invasora isolada que produza em 5 anos 100 novas plantas terá como descendência, em outros 5 anos, 100 x 100 novas plantas, ou seja, 10.000 plantas; e assim sucessivamente.
As espécies são chamadas de exóticas quando introduzidas em ecossistemas do qual não fazem parte. Podem ser de plantas, de animais ou de microorganismos. Muitas dessas espécies não conseguem se adaptar e desaparecem. Outras se adaptam, se reproduzem e invadem o ambiente, expulsando espécies nativas e alterando seu funcionamento. Nesses casos, são denominadas espécies exóticas invasoras. Muitas espécies invasoras passam desapercebidas, apesar de estarem estabelecidas em nosso meio. A dificuldade é que em muitos casos é necessário um certo conhecimento botânico para identificá-las, o que se torna mais fácil quando destoam da paisagem natural.
Um exemplo brasileiro com impactos negativos tanto no meio quanto na capacidade de produção é a invasão de capim-annoni (Eragrostis plana) no Rio Grande do Sul. Originária da África do Sul, a espécie foi introduzida em mistura com sementes de outra forrageira e então selecionada e comercializada por um fazendeiro chamado Annoni. Anos depois, percebeu-se que o gado não se alimentava da planta, extremamente fibrosa, mas já era tarde demais para conter a invasão. Em 1989, quando o Ministério da Agricultura proibiu o comércio da espécie, já havia 30 mil hectares de campos naturais invadidos e dominados. Atualmente, a unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Pelotas-RS estima que já estão ocupados mais de 500.000 hectares no estado, com elevados prejuízos para a produção pecuária. O capim annoni já está em Santa Catarina e no Paraná, onde é comum ao longo de rodovias e de estradas rurais. Sem ações de controle, o aumento da invasão é apenas uma questão de tempo.
Essa é outra característica das invasões biológicas: ao contrário de grande parte dos impactos ambientais, que são lentamente absorvidos pelo meio, as invasões se agravam com o tempo e, na maior parte dos casos, o processo só é reversível com interferência humana. Nos Estados Unidos, estima-se em 137 bilhões de dólares anuais as despesas do país com o controle dessas espécies nas áreas da agricultura, da saúde e do ambiente.
Outros exemplos de espécies em processo invasor no Brasil são cinamomo, do Paquistão; uva-do-japão, da China e Japão; cedrinho, de Portugal; acácia-negra, da Austrália; nêspera, do Japão; tojo, da Europa; eucalipto, da Austrália; braquiária e capim-gordura, da África; maria-sem-vergonha, da Ásia; lírio-do-brejo, da Ásia; pinus, da América do Norte; amarelinho, do México; e leucena, da África, entre muitas outras. Entre os animais, destacam-se o javali, que vem causando prejuízos ao cultivo de arroz no Rio Grande do Sul; peixes exóticos como a carpa, a tilápia e o bagre africano, que escapam ao cultivo e depredam as populações de peixes nativos; o lagarto Tupinambis, em Fernando de Noronha, que se alimenta dos ovos de aves nativas; búfalos, cachorros e gatos asselvajados. Na área da saúde, também não faltam exemplos de invasões biológicas: a febre aftosa, o vírus ebóla, o vírus da Aids, a dengue, transmitida por um inseto de origem egípcia, e a própria peste negra que assolou a Europa na Idade Média.
Todos os exemplos acima ilustram um mesmo problema, que tem conseqüências sociais, ambientais e econômicas. É tarefa de cada um ajudar, não cultivando nem transportando espécies consagradas como invasoras. O setor produtivo tem o papel de implantar medidas de prevenção e controle e de buscar alternativas de espécies não invasoras para produção, preferencialmente nativas.
As espécies dos gêneros Pinus e Eucalyptus são a base da produção florestal em todo o mundo e apresentam elevada importância econômica. O plantio comercial não constitui um problema em si, mas ainda carece de manejo adequado para controle da dispersão de sementes e mudas. A dispersão de plantas a partir dos núcleos de reflorestamento é que constitui hoje um problema, não apenas nos campos do Sul do Brasil, mas também na Argentina, África do Sul, Nova Zelândia, Austrália e certamente em outros países para os quais ainda não há registros oficiais. Esses núcleos de dispersão não estão, porém, limitados a plantios comerciais. Existem inúmeros pequenos plantios de árvores ao longo de estradas ou para fins ornamentais em fazendas que contribuem em muito para o processo de invasão. Por isso, o engajamento da sociedade na contenção das invasões biológicas é crucial, para que não se cultivem espécies invasoras e para eliminar as que se encontram estabelecidas.
A melhor garantia de sucesso para conter uma invasão é a sua detecção precoce e a adoção imediata de medidas de controle. Para tanto, é preciso investir em conhecimento científico e no esclarecimento do público, pois a tomada de responsabilidade de cada indivíduo, proprietário rural, empresário ou amante de plantas ornamentais, é a chave para a solução do problema.

sábado, março 14, 2009

A essência dos Animais


Olhe bem dentro dos olhos de um animal.E ao olhar você vê que este ser é a expressão do Universo ...Preste atenção no que você vê: os anos de vida presentes dentro desses olhos
e a vitalidade que brilha através da cor e transparência.Contemple sua forma.Note os ângulos e curvas de individualidade que fazem desta criatura uma obra de arte única, moldada pelo tempo e pelo desejo ...E enquanto você olha dentro dos olhos desse ser, atente para aquilo que não pode ver; o interior, um ser tão singular como sua expressão.O que você vê é um espírito vivo. Acolha-o, respeite-o. Aprecie-o por isto.Pergunte a si mesmo: o que parece sentir esta criatura? Como, através desses olhos, o mundo parece ser?Saiba que há antigüidade dentro destes olhos, milênios de evolução.Eles trazem na sua contemplação, uma aguda solidão que você nunca poderá compreender completamente ...Esteja certo de que este ser é tão oprimido e sofrido como você nunca imaginou.É um ser que tem vivido momentos de rudeza e inocência das quais você nunca poderá compartilhar.Saiba ainda que é uma criatura viva e que tem desejos como você.Ela anda sobre o mesmo chão e respira o mesmo ar.Sente dor e alegria, o calor do brilho do sol, a agradável sombra das florestas, o sabor refrescante da água pura ...Como você. E nisto somos todos iguais. Numa igualdade onde existe toda a vida.Através dela podemos encontrar a totalidade. A partir desta igualdade podemos extrair discernimento e compreensão para a cura do nosso lar comum.
Gary Kowalsky - The soul of animals , 1991

sexta-feira, março 13, 2009

Site Bichos do Campus no blog da Gisele Bundchen



http://giselebundchenblog.blogspot.com/2009/03/bichos-do-campus.html

quarta-feira, março 11, 2009

Pensamentos



“Eu fui ao Brasil há poucos meses e me diziam que a crise não os afetaria. Parece que não é mais o caso. Muitos emergentes estão se tornando vítimas inocentes. A ironia é que, enquanto o governo dos EUA dava lições sobre regulações e instituições, suas políticas eram um fracasso. Por causa disso, hoje a crise é severa em todo o mundo e países como o Brasil vão mesmo sofrer. (...) Hoje, a preocupação é de que muitos emergentes vão precisar de ajuda para superar a crise. O dinheiro, se vier do FMI, terá de vir sem condicionalidades. Nos anos 90, as exigências do FMI incluíam ordens para elevar taxas de juros e cortar gastos. Isso levou à recessão. Tudo o que o FMI disse naquela época está sendo recusado pela Europa e EUA hoje. Essa é a hipocrisia.”
Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de economia, em entrevista sobre o impacto da crise econômica global no Brasil.

(Jornal O Estado de São Paulo, 11/3/09)


“Em toda parte, governos e empresários já se deram conta de que a crise econômico-financeira é uma oportunidade para mudar padrões de produção e consumo, formatos de produção de energia, transportes, etc. Aqui o imobilismo é inquietante. Nem sequer conseguimos pensar a matriz energética: embora o consumo já tenha caído no final do ano e não haja vislumbre de crise de abastecimento, continuamos a privilegiar usinas termoelétricas, as mais poluidoras.”
Washington Novaes, jornalista, no artigo “Hora de mudar, não de paralisia” (

Revista Eco 21, n. 147, fevereiro/2009)

Dicas para ser um micreiro mais educado

Por Oliver Hautsch

Ainda não foi criada a delegacia de proteção a computadores traumatizados por violência doméstica, negligência do dono ou envelhecimento precoce por mau uso — na verdade, provavelmente ela nunca será criada. Portanto, cabe a nós, usuários, cuidarmos das nossas máquinas para evitar que um dia elas se revoltem e entrem em guerra contra o ser humano. Da mesma forma, nossos amigos virtuais não precisam ser expostos às nossas manias e hábitos estranhos, senão eles fugirão rapidinho (os amigos, não os hábitos).

Deixando a brincadeira de lado (só durante um parágrafo), reunimos algumas dicas bem humoradas para que nós, usuários viciados em computador e suas maravilhas, não sejamos tomados por loucos pelos meros mortais que não entendem nossa paixão. Você também encontrará dicas sobre boa utilização do computador, para que ele não tenha que ir para o lixo antes do tempo.

Adestre sua máquina: assim como um animal de estimação, o computador reflete a personalidade do dono. Ou seja, se você tiver hábitos ruins de utilização do PC — como baixar anexos de e-mail suspeitos, executar programas duvidosos, etc. — seu computador também demonstrará comportamentos indesejáveis, como lentidão, travamentos e fechamentos inadvertidos de programas. Ter que formatar o PC a cada 15 dias é tão ruim para o PC quanto é chato para você.

Não ofenda as minorias: a melhor demonstração de ignorância é o preconceito. Agir como se o software que você usa fosse melhor que qualquer outro, só porque ele é o mais usado, é uma demonstração de preconceito. Existem programas desenvolvidos com poucos investimentos, mas de ótima qualidade, assim como existem programas extremamente ruins, que tiveram dinheiro à vontade para o desenvolvimento. Em suma: ter dinheiro não é sinal de ter competência.

Anote as mensagens de erro: se um erro acontecer no seu computador, não se desespere (ele está travado mesmo. Com certeza agüenta esperar), ligue para aquele seu amigo sabichão e pergunte o que fazer. Mas, a menos que o seu amigo tenha o dom da mediunidade, anote a mensagem, pois ele não vai conseguir adivinhar o problema se você falar “apareceu um trocinho na tela e sumiu tudo”.

Mate a fome, mas não se mate: não é uma boa idéia comer demais e ir jogar Bioshock, No Gravity ou aquele joguinho coreano que pisca tanto ao ponto de causar náuseas ao jogador. A diversão pode se tornar uma bela dor de cabeça, um delicioso desarranjo intestinal ou ainda um “double hit combo” com os dois problemas. Se você fica enjoado facilmente, pior ainda.

Deixe o vício em casa: ir a eventos sociais que não sejam a E3 ou a Blizzcon e puxar conversa sobre “aquele chefão que você demorou três horas para matar porque ele tinha um buff que regenerava 1000 HP por segundo mas valeu o esforço porque ele soltou um item com mais trinta e sete por cento de dano crítico (...)”, (respira) vai fazer com que as pessoas à sua volta lancem olhares estranhos para você e pensem coisas como “acho que falta um parafuso” (na melhor das hipóteses). Adote a política “o que acontece no jogo, fica no jogo”.

Não aja como “O Desbravador”: assim como existem usuários que têm medo de clicar no OK, mesmo sendo a única opção da tela, há aqueles exploradores que saem clicando em tudo, sem terem idéia do resultado. Se você não tem certeza da função do botão “iniciar fusão nuclear” ou do comando “CTRL + W”, contenha sua curiosidade e a coceira no dedo. A pergunta “o que será que isso faz?” é extremamente perigosa se não há ninguém para responder. Pesquise antes e evite a perda de vidas.

Solte a raiva no culpado: não quebre seu teclado porque você levou um head-shot no Combat Arms, nem jogue o mouse longe porque você errou o traço no Photoshop. Além de os coitados não poderem se defender, pouca força é suficiente para quebrá-los, impedindo qualquer revanche sua contra o soldado que teve a audácia de humilhar, digo, manchar sua honra. No caso do Photoshop, não fique bravo, o “CTRL + Z” é o seu melhor amigo quando algo sai errado.

Cuidado com o volume alto: o vizinho não quer ouvir os gritos de agonia dos inimigos que você mata — principalmente se já passar das dez da noite. O pessoal do condomínio também não precisa saber que seu computador tem um sub-woofer de 5000 Watts RMS. Além disso, a lei de Murphy adora pegar você desprevenido nessas horas. Como? Tenha certeza de que quando aumentar demais o volume, algum site aberto no seu navegador produzirá sons comprometedores, ou algum amigo enviará um vídeo para assustar você. Para nunca incomodar, use os fones de ouvido.

Não apareça demais: quem não gosta de colocar suas fotos no Orkut, publicar seu dia-a-dia em um blog e fofocar no MSN? Mas tome cuidado, expor-se demais na internet é perigoso e dá margem para bisbilhoteiros, espertalhões e até criminosos. Se você tem algo que não quer que caia na boca do mundo, publicar na internet é uma péssima idéia.

Leia mais: não precisa pular essa dica, pois não vou dizer que você precisa ler pelo menos um bom livro por mês. Seria ideal que você o fizesse, mas visitar um ou dois sites de notícias diariamente, ler bons blogs ou até mesmo charges e quadrinhos, já é uma boa para enriquecer a sua cultura e o seu vocabulário. Caso você precise de um estímulo, pense que falar bem é imprescindível para impressionar a pessoa que você está tentando conquistar.

Evite os excessos lingüísticos: se você quer realmente que as pessoas prestem atenção no que você escreve, tente não usar fontes muito desenhadas. Geralmente as pessoas fazem mais de uma coisa ao mesmo tempo quando utilizam o computador. Se elas tiverem que forçar os olhos para ler seu texto, com certeza responderão com um “aham” desinteressado. Veja abaixo outros exemplos de costumes muito comuns, mas que denigrem a imagem de que os usa:

FRASES INTEIRAS EM CAIXA ALTA E COM MUITOS PONTOS DE EXCLAMAÇÃO, ALÉM DE SEREM ERRADOS, PODEM FAZER COM QUE AS PESSOAS PENSEM QUE VOCÊ ESTÁ BRIGANDO/GRITANDO COM ELAS!!!! OU PODEM DAR A IMPRESSÃO DE QUE VOCÊ ESTÁ LOUCO POR ATENÇÃO!!!!!

TeXtOs cOm MaIúSCulAs e miNúScUlaS mIstUraDaS, taMbÉm sÃo péSsImOs pARa a leItuRa.

Seja contra a pirataria: se você realmente gosta de um autor, banda, programa, etc., ajude-os comprando cópias originais. Pode ter a certeza de que as vantagens de ter um produto original são compensadoras. Por exemplo: o suporte a programas genuínos é muito mais atencioso. Na verdade, programas piratas não têm direito algum a qualquer tipo de suporte do fabricante.

No caso de software livre, imagine você tentando viver da distribuição de algo, sem cobrar nada. Imaginou? Então vá até a página do desenvolvedor e procure maneiras de fazer uma doação. Tomar menos refrigerante e comer menos sanduíche são atitudes saudáveis, que permitem o redirecionamento do seu dinheiro ao programador do software que você usa. Pense nisso como filantropia se quiser.

Estas são só algumas dicas para você usar melhor o seu computador e fazer com que não se lembrem de você só pelos seus erros. Nós, do Baixaki, esperamos ter proporcionado algumas risadas ao longo do texto e convidamos você a dar sua opinião nos comentários.

terça-feira, março 10, 2009

Conhecimento



Para que (quem) serve o teu conhecimento?

A pedra


O distraído nela tropeçou...
O bruto a usou como projétil.
O empreendedor, usando-a, construiu.
O camponês, cansado da lida, dela fez assento.
Para meninos, foi brinquedo.
Drummond a poetizou.
Já, Davi, matou Golias,
E Michelangelo extraiu-lhe a mais bela escultura...
Em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem!
Não existe "pedra" no seu caminho que você não possa aproveita-lá para
o seu próprio crescimento.

quinta-feira, março 05, 2009

Administrando o tempo




Você tem tempo pra quê?

domingo, março 01, 2009

A sociedade da arrogância, não do conhecimento

Tecnologias não significam evolução. São respostas às demandas básicas ou supérfluas da nossa sociedade. Evoluir se trata de ganhar mais equilíbrio com o meio e com os outros. Nesse quesito estamos levando nota baixa.

Estamos cercados de alguns mitos complicados devido à nossa eterna arrogância de animais mais complexos do planeta que querem a cada geração ser especial entre outras e achar que agora há algo muito diferente no ar.
Sempre há algo especial, mas nunca de um jeito completamente novo, que já não tenha ocorrido em diversos outros momentos na história dos humanos no planeta.
Assim, me parece que:
Não somos a sociedade do conhecimento
Somos mais uma, menos equilibrada que muitas outras anteriores, que já foram mais pacifistas, ecológicas, integradas e humanas.
Não somos a sociedade de informação
A quantidade deve ser sempre feita em proporção ao número da população do planeta. Nunca fomos tantos (quase 7 bilhões) e é natural que cada vez tenhamos mais e mais dados para transformar em informação, conhecimento.
Portanto, somos mais uma geração nessa eterna produção contínua e cada vez maior de conhecimento. (Lembro que quando surgiu o livro, os iluministas também se consideravam na sociedade do conhecimento.)
Talvez seja melhor gravar um CD e de tempos em tempos, colocar para tocar a cada geração, uma espécie de hino à falta de humildade:
Somos nós a sociedade do conhecimento e da informação!
Não estamos evoluindo
Tecnologias e tudo que está em torno não significa evolução. São respostas às demandas básicas ou supérfluas da nossa sociedade.
Evoluir me parece que se trata de ganhar mais equilíbrio com o meio, com os outros, com nós mesmos e nesse quesito, me parece, que estamos levando nota baixa.
Note que país mais rico (materialmente) do planeta é o mais pobre em exemplos de humanidade (ou você é perdedor ou vencedor) para com eles e para com os outros.
Será este o exemplo a ser seguido?
O planeta está morrendo?
Não, não está. O planeta já passou por crises muito piores, quando recebeu um meteoro enorme pela proa, na qual morreram todos os dinossauros e só sobraram aqueles dos filmes do Spielberg.
Quem está ameaçada é a espécie humana, que, se desaparecer, a Terra saberá trazer de volta novos animais e espécies menos agressivas que a nossa.
Por fim, ninguém é dono da verdade
Não existe realidade, mas apenas aproximações desta, a partir, sempre, de comparações do que vemos agora com muitas fontes, do que ocorreu no passado, de como se desdobrou lá e como pode ser que ocorra aqui.
Qualquer outra tentativa é procurar um submarino único em jogo de batalha naval.
Ou seja, me parece, que muito mais do que sociedade do conhecimento, ou sociedade da informação, vivemos em mais uma sociedade da arrogância, uma característica, aliás, da verdadeira falta de informação e de conhecimento do que realmente somos.
E contra ela, me desculpem, não há tecnologia que dê jeito! É uma questão de resgatar a gestão da sabedoria, algo cada vez mais fundamental, mas, infelizmente, ainda não valorizada no dito mercado. Concordas?
15.02.09

Carlos Nepomuceno, é professor, pesquisador e co-autor do livro
Conhecimento em Rede, coordenador do ICO, Instituto de Inteligência Coletiva e diretor da Pontonet. Mais dele no blog CNepomuceno e no Twitter.

Ode ao gato onde há ódio ao gato

Vi no “Fantástico” os cadáveres de muitos gatos, postos em fila no Passeio Público, atestado silencioso da matança brutal que anda por lá. Fiquei pensando no tanto que escuto sobre gatos. Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso. Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece. O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias de amor. Só as saudáveis.
Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do mago Merlin, soprando-me o artigo?
Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.
“Falso”, porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.
O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se se lhe dá, então ele exige.
Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém, sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.
Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.
O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno, ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe “ler” pensa que “ele não está ali”, “saiu” ou “sei lá onde o gato se meteu”. Não é isso! Precisamos aprender a “ler” porque o gato não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.
O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.
Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação o assusta. Ingratos o desgostam. Falastrões o entediam. O gato não quer explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!
Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase quinze minutos) se aquecendo para entrar em campo. O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, ao qual ama e preserva como a um templo.
Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.
Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, sem veemências, sem exigências.
O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo Mistério à disposição do homem.

Arthur da Távola
Escritor e político


"O animal selvagem e cruel não é aquele que está atrás das grades. É o que está na frente delas."
Axel Munthe