Bichos meus

sexta-feira, maio 01, 2009

Kasinho [fusquinha] profano




Você já chorou ao ter que se desfazer do seu primeiro carro? Da minha primeira bicicleta, e nem era uma bi e sim uma tri, que eu não esqueço jamais. Principalmente, das lágrimas que derramei ao deixá-la. Hoje ficaram as correntes que me ligam ao passado me fazendo pedalar nas boas lembranças de uma infância feliz. Que saudades!!!
Corria segura sobre meu triciclo vermelho na calçada em frente de casa como se fosse dona do mundo. Freava e derrapava quando chegava ao limite entre os terrenos desnivelados, deixando meu boneco João Luis cair da garupa. Ele não está mais aqui para confirmar, mas os meus joelhos trazem as marcas das aventuras triciclísticas radicais daqueles momentos.
Mudei. Cresci. Ganhei uma Monark do ano. Realizada saía pelas ruas da pequena cidade onde eu morava, ganhado terreno. A ponte é o limite. E, foi assim que fui dominando o tempo e os espaços que percorri sobre as rodas. Abdiquei de ter a bike como companhia de todas as horas e rodar sobre ela por todos os lados quando Guilhermo apontou em meu ventre e tomou conta do meu jogo de cintura, deixando-me roliça. Dali em diante ele e minha filhotinha foram as razões de minhas correrias alucinadas. Cresceram.
Rodei muito, penei muito, ralei muito para pagar as oitenta prestações de um consórcio que me permitiu adquirir o meu primeiro Kazinho. Zerinho, pratinha, lisinho, limpinho e totalmente basikinho. Adequamo-nos e o encaixe foi perfeito desde o primeiro ato, o do olhar. Ele aceitava meus erros e eu me mantinha fiel. Nenhum outro carro me seduzia pelas ruas ou em revistas. Nem nos apelos publicitários. Meu Ka me bastava. Briguei por ele, mantinha-o sob proteção de santos e imagens e o conduzia com orgulho.
Os franceses, japoneses e alemães queriam lhe botar banca e oprimi-lo nas estradas, vias e estacionamentos, mas eu não permitia que ele ficasse pra trás. Seguimos confiantes e unidos por bons longos oito anos. As minhas alegrias nas conquistas e as lágrimas de dor foram compartilhadas com meu companheiro silencioso. Abriguei-me em seu conforto e flutuei sobre águas traiçoeiras sem me decepcionar.
Juntos percorremos momentos difíceis e ele sempre a me motivar e levar para onde quer que eu fosse. No frio, no calor na chuva, ele ali , firme e com aquela karinha sorridente. E agora? Como será que ele está? Onde andará meu Kazinho? Lembro das vezes que eu o perdia nos estacionamentos do shopping e ficava aflita rezando para Santo Antônio, quando ele apontava em minha visão. Era pura atração.
Sei que está sendo difícil e que terei recaídas de lamentações, mas vou superar a falta que me faz o cascudinho prateado. Neste instante, talvez dando alegria a outra pessoa. Não suporto pensar nisso. E não vou sucumbir ao ciúme. A partir de agora vou ficar atenta a outro possante que me queira com fidelidade. Pode ser um vermelhinho, um pretinho, até por um verdão, vou demonstrar que estou afim.
O mundo é assim mesmo redondo, redondo, momentos vão, momentos voltam, mas nunca são os mesmos, nem nós. Por isso, não vou patinar só nas lembranças e vou continuar a rodar com a esperança de adquirir asas e não mais ter que dar ré.
Circe D Godoy Brasil

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