Conquista da Lua - 40 anos
Neil Armstrong aproximava-se para o pouso. Usava um joystick para pilotar a máquina em forma de inseto quando, de repente, perdeu o controle.A colisão era iminente. Restava-lhe apenas uma alternativa. Em menos de um segundo, o astronauta puxou a alavanca de ejeção e se lançou ao ar, enquanto via a nave explodir no solo. A missão fracassara.Por sorte, a nave era uma versão de teste, o solo era o de uma base no Texas e o episódio fazia parte de um treinamento que seria crucial para salvar a pele de Armstrong e Edwin “Buzz” Aldrin dali a um ano.
Em 20 de julho de 1969, há 40 anos, os dois se aproximavam da Lua com poucos segundos de combustível, voavam fora da trajetória planejada, ouviam alarmes soar na cabine e viam o piloto automático conduzi-los para o interior de uma gigantesca cratera.
Estavam a mais de 380 mil quilômetros da Terra e prestes a completar o que John Kennedy, morto quase seis anos antes, definira como “a maior e mais perigosa aventura” da História. Ambos sabiam que era grande a chance de, depois de pousarem, não decolarem mais. O presidente Richard Nixon já tinha em mãos um discurso épico – revelado em 1999 – pronto para ser lido nesse caso. Começava assim:“O destino ordenou que os homens que foram à Lua para explorá-la em paz fiquem na Lua para descansar em paz. Esses bravos homens, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, sabem que não há esperança de resgate.”Não foi necessário pronunciá-lo. Armstrong e Aldrin têm hoje 78 anos. O primeiro esteve em Santa Catarina no mês passado, na festa de casamento de seu enteado (passou praticamente incógnito). O outro acaba de lançar um livro sobre sua luta contra o alcoolismo.O Brasil tinha por volta de 90 milhões de habitantes no ano da conquista. Um em cada quatro deles já não vive. O restante forma cerca de um terço da atual população, mas boa parte era muito pequena para se recordar. Às vésperas do aniversário da conquista da Lua, ZH reconta os detalhes de uma viagem que as últimas quatro décadas resumiram em apenas uma frase – a mais famosa do século 20. Dita por Armstrong ao descer de sua nave, ela não foi compreendida pelo âncora Walter Cronkite, da rede americana CBS, durante a transmissão ao vivo:– Ele falou que é um pequeno passo para o homem, mas não entendi o resto. O que mais ele disse?Veja o que mais os membros da missão Apollo 11 disseram naquela jornada:A descrençaNove de Setembro de 2002.Um homem corta o caminho de Buzz Aldrin em Los Angeles:– Você diz que caminhou na Lua, mas nunca fez isso.– Sai da minha frente – responde Aldrin, então com 71 anos.O provocador se chama Bart Sibrel. É cineasta.– Covarde, mentiroso... – prossegue.Sibrel integra uma legião de céticos para os quais a chegada do homem à Lua não passa de uma farsa americana, montada para proclamar vitória na corrida espacial disputada com os soviéticos. Ele não acredita em nada do que será contado a seguir.O lançamento– Cara, estamos no escuro agora – diz Neil Armstrong mais de meia hora após o lançamento da Apollo 11 do Centro Espacial Kennedy, na Flórida.É 16 de julho de 1969, mais ou menos meio-dia no Brasil. Tudo passou muito rápido. A contagem regressiva culminou com o lançamento do Saturno V. Descartados dois estágios, que caíram no Atlântico, o resto do foguete entrou em órbita em 12 minutos, voando a 28 mil km/h. Cruzou a África e mergulhou na noite antes de passar sobre a Austrália.Armstrong é o comandante. Ao seu lado, sentam-se Buzz Aldrin, piloto do módulo lunar (batizado de Eagle, águia, em inglês), e Michael Collins, piloto do módulo de comando (chamado Columbia). Todos têm 38 anos. Collins permanecerá na órbita da Lua, enquanto os outros dois descerão no satélite.O início da viagem começa com uma volta e meia na Terra. Em meia hora, a Apollo 11 mergulha na noite. Dali a 32 anos, Aldrin será xingado por um cineasta em Los Angeles, mas agora é a sua vez de brincar de diretor de cinema, com uma filmadora 16mm:– Alguém entende de zoom? Essa lente aqui vai de 12,5 até 75 milímetros. É como nas câmeras fotográficas?Uma hora e dezoito minutos após o lançamento, o Sol volta a aparecer. Collins se impressiona:– Jesus Cristo, olha aquele horizonte.– Não é algo? – deslumbra-se Armstrong.– Deus do céu, é lindo. É surreal – diz Collins.– Tira uma foto.Collins busca a máquina fotográfica, mas não a encontra. O astronauta vasculha a cabine:– Achei uma caneta flutuante aqui. Alguém perdeu uma caneta?Quando encontra a câmera, Collins flutua até a janela:– Cara, olha isso. Tem árvores e uma floresta lá embaixo. Fantástico.Ao se aproximarem do lado escuro da Terra de novo, os três astronautas retornam aos assentos e se preparam para a ignição que os lançará à Lua.A viagemDuas horas e 44 minutos após o lançamento, a Apollo 11 inicia a jornada até a Lua. A trajetória tem de ser minuciosamente calculada, ou eles podem errar o satélite e se perder no espaço.– Ignição – comanda Armstrong.O combustível deve queimar até alcançarem a velocidade planejada – quase 40 mil km/h. Nos primeiros segundos, Collins parece tenso:– Clarões na janela 5. Não sei o que é, pode ter a ver com o propulsor.Ninguém fala nada. Ele insiste:– Clarões contínuos.Armstrong o tranquiliza:– Eu não me preocuparia muito.Collins não se convence:– Não olhem pela janela 1. Se parecer com o que vejo pela janela 5, não vão querer olhar.Cinco minutos e 50 segundos após a ignição, a propulsão é interrompida. A Apollo 11 viaja no vazio.Piloto do módulo de comando, Collins assume o controle para uma manobra fundamental: separar o Columbia da parte de trás do foguete, onde está o módulo lunar (Eagle), girar 180 graus e então acoplar um módulo no outro, frente a frente. Os dois voarão assim até a órbita lunar. A operação demora oito minutos.Os astronautas fazem a primeira refeição – sanduíches – cinco horas e 20 minutos após o lançamento. Não há banheiro na nave. Os três se aliviam em sacos, que são armazenados em um compartimento. A urina, de tempos em tempos, pode ser bombeada para o vazio sideral.Na “manhã” seguinte, Houston pergunta se a tripulação está interessada em novidades da Terra. Armstrong responde que sim. O operador lê um resumo, com notícias como esta:– Hippies terão o visto de turista negado para entrar no México a menos que tomem banho e cortem o cabelo.Como meteorologistas que analisam imagens de satélite – com a diferença que eles são o “satélite” –, os astronautas repassam à Terra suas próprias conclusões sobre o tempo.– Estou vendo aqui um anti-ciclone a sudeste do Brasil – observa Aldrin.No terceiro dia, uma troca de mensagens é motivo de polêmica até hoje. Armstrong entra em contato com a Terra:– Houston, vocês sabem a que distância está o terceiro estágio de nós?O terceiro estágio é a última parte do Saturno V. Depois de lançá-los à Lua, foi descartado como os outros dois. Em vez de cair na Terra, porém, viajará para o satélite, até chocar-se contra ele.– Aguardem – responde Houston.Pela janela, os astronautas veem um objeto misterioso refletindo a luz do Sol. Pensam que pode ser o terceiro estágio.– Apollo 11, o terceiro estágio está a 11 mil quilômetros de vocês.Não se trata do foguete, portanto. Ufólogos interpretam a mensagem como sinal de que um disco voador acompanhava a missão.A chegadaO quarto dia de viagem começa com nova atualização das notícias.– Rapazes, vocês são manchete até do Pravda, da Rússia. Neil, te chamaram de “czar da nave” – diz Houston.Minutos depois, com a Lua próxima, Houston entra em contato novamente para passar instruções:– Apollo 11, aqui é Houston.– Prossiga Houston – diz Collins, acrescentando:– O czar está escovando os dentes. Posso ajudá-los?A trajetória da nave tem que ser levemente corrigida para a entrada em órbita. Setenta e cinco horas e 49 minutos após o lançamento, os três avistam de perto seu destino.– Aí está a Lua em todo o seu esplendor – entusiasma-se Collins.– Cara, olha isso – diz Aldrin.Armstrong corta o barato:– Não olha isso. Vamos nos preparar para a ignição.Com a trajetória corrigida, a Apollo 11 entra em órbita. Os astronautas podem finalmente curtir a vista.– Oi, Lua. Como vai seu lado oculto? – indaga Collins quando a nave começa a contornar a parte de trás do satélite, que nunca é vista da Terra.A comunicação com Houston é interrompida, já que as ondas de rádio são bloqueadas pela Lua.– Que vista espetacular. Olhem aquela cratera – deslumbra-se Armstrong.– Nossa, dá para passar uma vida inteira estudando a geologia dessa cratera – concorda Collins, emendando:– Mas eu não queria passar a minha vida inteira fazendo isso.Armstrong e Aldrin ficam na expectativa do primeiro “nascer da Terra”, de olho no horizonte, enquanto Collins continua extasiado:– Cara, um geólogo ia pirar aqui.– Olha a Terra – aponta Aldrin. – Já está metade acima do horizonte.Eles tiram algumas fotos, mas voltam a se concentrar na Lua.– Cara, não deve ter nada mais desolador do que estar dentro de uma daquelas crateras – comenta Collins.– As pessoas que moram ali não devem sair nunca – debocha Armstrong.Três horas depois, a visão da Lua já não provoca entusiasmo. É Collins novamente quem diz:– Incrível como a gente se adapta rápido às coisas. Já não acho estranho olhar para fora e ver a Lua passando.Todos riem, e vão dormir.
zerohora.com
Veja o especial multimídia sobre a Apollo 11
http://www.clicrbs.com.br/zerohora/swf/pordentro_lua/index.html
http://www.clicrbs.com.br/zerohora/swf/pordentro_lua/index.html
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial