Clima oscila humor dos gaúchos
No calendário, a primavera chegou há 15 dias. Na prática, os gaúchos ainda esperam por dias melhores da estação. O excesso de chuva e a escassez de sol nas últimas semanas vêm produzindo alterações no ânimo da população.
O tempo hoje no Rio Grande do Sul será de semblantes carregados, com descargas esparsas de mau humor e desânimo em elevação no decorrer do período.
O prognóstico para esta quarta-feira no Estado seria escrito como acima, caso os boletins meteorólogicos fossem formulados pelo ponto de vista das emoções humanas, e não dos fenômenos atmosféricos.
Para a Ciência, já não restam dúvidas sobre a intimidade entre mau tempo e mau humor. Períodos prolongados de céu fechado e sol bissexto, como o vivido desde agosto pelos gaúchos, significam efeitos como desânimo, sonolência, tristeza, passividade e pensamentos negativos a seu próprio respeito. Em alguns casos mais severos, pode-se chegar a uma depressão e à necessidade de tratamento. É por isso que a cada dia, ao abrir a janela e olhar a chuva caindo de novo lá fora, o gaúcho suspira:
– Não aguento mais.
O baixo-astral generalizado decorre da falta de luz: o relógio biológico humano é acionado pela luminosidade. Quando ela escasseia, como nas últimas semanas, despenca a produção da serotonina, substância responsável pela sensação de bem-estar. Sem ela, a pessoa tende a ficar irritada e triste. A libido decai e a energia some. O isolamento apático dentro de casa vira regra para muitos. O problema, vivido com mais intensidade nas regiões do planeta onde o sol é tímido, tem nome: desordem afetiva sazonal. É esse distúrbio que explica os indíces mais elevados de depressão, suicídio e alcoolismo nas regiões de clima sombrio.
– A maioria das pessoas fica triste, mas não chega a ter depressão. Em setembro, porém, tive um aumento no consultório de pessoas que se sentiam mais angustiadas e ansiosas. Afianço que boa parte delas tinha essa sensação porque não conseguia mais sair de casa, fazer exercício físico e levar o cachorro para passear – afirma Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (Isma/BR). Um das consequências desse quadro é que as pessoas tendem a buscar uma compensação para a falta de ânimo no gatilho à produção de serotonina contido em doces e carboidratos – o que significa ganho de peso. Em casos mais problemáticos de depressão da chuva, Ana Maria Rossi receita a terapia das luzes: 30 minutos a uma hora sob luz fluorescente intensa, diariamente, para compensar o déficit de sol.
“Precisamos de sol”, diz psicanalista Christian Haag Kristensen, professor do programa de pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), observa que casos do transtorno afetivo sazonal são diagnosticados com cada vez mais frequência no sul do Brasil, a região do país mais carente de sol, e que o distúrbio está relacionado com até 10% da prevalência de depressão. Como antídoto, ele recomenda investir nas relações pessoais para evitar o isolamento, fazer atividade física e aproveitar cada trégua da chuva para se expor ao ar livre:
– A espécie humana não evoluiu dentro de prédios, mas nas savanas da África. Precisamos de sol. No viés da psicanálise, o mal-estar regado pela chuva está relacionado a evidências de que não controlamos as forças da natureza. É a análise de Robson Pereira, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Segundo ele, o ser humano necessita da sensação de controle. Quando tem seus planos e sua rotina espezinhados por fatores climáticos, essa ilusão se torna impossível. Ele sente, ainda que de forma inconsciente, sua condição frágil e vulnerável.
– O importante é que se sentir angustiado nessa situação é normal e faz parte da natureza humana. Não pode ser confundido com doença – alerta Pereira.
Jornal Zero Hora 07.10.2009
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