Mundo de Bicho
Resolvi contar a história de meus bichos, cães e gatos, e assim registrar, principalmente para meus filhos, o quanto é gratificante uma vida em contato com a natureza e com os animais. Não tenho a mínima dúvida que tive uma infância rica em convivência, valorização e respeito pela vida animal, plantas, o rio, o meio no qual cresci.Brinquei ao máximo. E a bicharada sempre presente.
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Lembro de meu primeiro bicho de estimação. Foi um gato, sem raça definida, preto e cinza, zebrado, mais precisamente brazino, na linguajem campesina e cujo nome era Mimicho. Não sei quem o batizou com esse nome. Era chamado assim entre outros tantos gatos existentes na casa da estância do Angico, localizada a 70km da cidade do Alegrete, onde nasci e vivi a primeira infância, e foi com este gato que descobri o encantador e deslumbrante mundo dos chamados animais de estimação. Firmo o pensamento naquela época de meus 5 a 6 anos e consigo enxergá-lo como em uma fotografia, carente foco, mas a sua imagem listrada está bem marcada em minha memória. Eu enxergo o Mimicho e isso é que importa. Lembro que seu prato preferido era passarinhada, embora eu não aprovasse tal predileção. Hoje eu entendo muito mais o comportamento do bichano. Nascido e criado em campo aberto, todo o horizonte do mundo frente a seus olhos, livre e dono de amplos espaços para perambular, uma festa de verde, vida e liberdade, só poderia dar asas à sua condição de felino. E saía à caça, sem deixar sinal que pudesse caracterizar esse tipo de jornada e muito menos quantificar a periodicidade de suas andanças e voltava sempre com um passarinho entre os dentes. Foram muitas às vezes que ao retornar dessas excursões guerreiras encontrou-me em horário de refeição e a lembrança que tenho é de uma varanda que dava para o pátio interno da casa, um belo pé de angico quase centenário, uma mesa, cadeiras onde todos sentavam para as refeições e o Mimicho pulando para cima do assento de minha cadeira e postando-se atrás de minhas costas, tendo entre as presas um pobre passarinho, sua caça, seu troféu. E ali ficava sentado a olhar-me, na realidade era como se estivesse efetuando um convite para que juntos saboreássemos tão seleta refeição ou então, a concordância pelo feito, como se soubesse de minha desaprovação. Confesso meu sentimento de dor ao ver o passsarinho inerte entre seus dentes. O tempo deu clareza ao ritual daquele felino, responsável que foi pela iniciação em meu “mundodebicho” e que tanto me ensinou sobre amores, afetos, carinhos, apegos, querências e perdas. Depois dele, vieram os cães. Foram tantos! Lembro da Tita, uma cachorrinha vira-lata, baixinha e redondinha, branca com manchas pretas. Ela ficou muito tempo sem procriar, diziam que não pegava cria. E pegou! Foi uma tragédia ouvida. Contavam que ela sofreu o diabo para parir os filhotes. Sofreu, sofreu. Um parto sem fim. Acabou perdendo-os e nunca mais concebeu. Morreu de idade. Tenho vaga lembrança. Depois vieram o Tic e o Tac. Um era meu. O outro de minha irmã. Um era marrom, o outro preto e branco. Essa turma toda viveu em campo aberto, livres e muito bem aceitos e cuidados, em um local onde pressa não existia. O dias eram longos. As noites muito estreladas, os verões escaldantes e invernos muito frios. Mas eles tinham o galpão e o fogo de chão para aquecer. E em volta dele, enrrodilhados, sonolentos e felizes dormiam ouvindo o vento minuano. Nessa mesma época outros cães povoaram meu mundo e não foram propriamente meus bichos, de fato dividíamos o mesmo território em paz e simpatia. Nessa turma estava o Cachorrão, um pêlo meio-curto, encorpado, de coloração amarelada, muito manso e caseiro. Seria um labrador? Ou um vira-lata labrador, quem sabe! Bem tratado, gordo e preguiçoso viveu “nas casas” da estância, aos cuidados de uma inesquecível figura humana de nome Quinão, chamada de Papata pelas crianças da casa e responsável pela cozinha. Devo a essa pessoa o que se pode chamar de afeto paralelo. Depois de meus pais foi o colo mais apreciado. Cachorrão aprendeu a coçar o lomba na cerca de arame liso atrás das casas. E assim aliviava suas coceiras, num vai e vem faceiro. E o que dizer da cachorrinha Gringa, peluda, cor de mel, uma “collie” mestiça, porte mediano, que no linguajar campeiro é conhecida como da “raça ovelheiro”. Não resta dúvida sobre a paixão que ela dedicava às lides do campo. Era parideira de duas crias ao ano. E mesmo amamentando não perdia uma corrida à frente das casas, latindo alerta a qualquer movimentação que quebrasse o silêncio do campo. Teve um cão bem mais antigo de nome Piloto. Não era dado a carinhos e muito menos aproximações amigáveis. Já velho e trôpego vivia suas lembranças campeiras à sombra dos cinamomos. Não era propriamente da turma dos meus cães, era cria e apego da casa. E nesse meio tempo fui para a cidade e ingressei na escola, embora já soubesse encarreirar as letras, por querência de meus pais, que a época, pela ausência de escola nas proximidades da estância, mantinham “professora residente” para iniciar as crianças no alfabeto e nas contas. Minha irmã, eu e outras crianças da redondeza tivemos o privilégio desta escola de iniciação. É bom esclarecer que a professora residia na casa, com a família, auxiliava nas lides domésticas e pela manhã ministrava a aula. Bons tempos nesta escola! Coisas de uma época......
[Continua. Voltarei, nas próximas estações, escrevendo minha história. Tem muito bicho pela frente: Micuim, Rex, Dick, Zezinho, Piti, Sacha 1 e a gata Zuli. A bicharada mais recente aparece nas fotos que "enfeitam" este "brogue"]
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