Bichos meus

quinta-feira, maio 07, 2009

O (in)conformismo do brasileiro

O brasileiro tem um poder de indignação incrível. Todavia, é detentor de um poder de ação praticamente inexistente. Em outras palavras: o brasileiro é omisso!

A omissão do brasileiro se mostra clara na medida em que ele assiste, de forma inerte e passiva, a todas as falcatruas que os políticos fazem com o dinheiro público. Mesmo com a vasta divulgação dessa malversação de verba pública, que se dá através da farra que os parlamentares praticam no exercício de seus mandatos políticos, o povo só demonstra inconformidade e indignação, permanecendo silente e passivo diante de tais acontecimentos.

O problema da omissão do povo brasileiro é que o uso da máquina pública em benefício próprio acaba por fazer nascer nas gerações vindouras uma conveniente sensação de impunidade. A atitude dos políticos brasileiros faz brotar no povo a ideia de que vale a pena usar dinheiro alheio em benefício próprio, posto que não há nenhuma consequência negativa com tal atitude.

Na política, a velha máxima de que “toda ação corresponde a uma reação” não é verdadeira, pois o povo – detentor do direito de voto – não reage diante de situações que exigiriam atitudes positivas. Permanece indiferente esperando que algo mude, sem fazer absolutamente nada a respeito!

A imoralidade se tornou rotina; a moralidade se tornou exceção!

Os políticos brasileiros, diante da omissão de seus eleitores, se tornam verdadeiros atores no cenário nacional. Eles conseguem travestir suas atitudes corruptas em atitudes corretas, valendo-se do poder da palavra para explicar situações inexplicáveis.

No livro Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda definiu o brasileiro como um “homem cordial”. Talvez, se estivesse vivo hoje, o definiria como o “homem sem moral”, posto que a omissão do povo em cobrar moralidade de seus políticos acaba por gerar a interpretação de que o próprio povo não tem moral para cobrar moralidade de ninguém.

Assim, sem ser cobrado, o político brasileiro acaba recebendo carta branca de quem o elegeu, na medida em que corrupto vota em corrupto, pois se identifica com ele. Isso se confirma com a reeleição de caciques da política brasileira, que são reconduzidos aos seus cargos políticos com significativo número de votos.

Sem uma reforma política e uma mudança de mentalidade, a corrupção na política tende a aumentar e, como consequência lógica, também a inconformidade do povo brasileiro.

Guilherme Dettmer Drago**Advogado, mestre em Ciências Criminais (PUCRS)
Zero Hora - 07 de maio de 2009

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial