Bichos meus

domingo, outubro 30, 2011

Educar para não plagiar : código de boas práticas científicas


"Estive na semana passada em um congresso sobre plágio e má conduta na ciência na UESC, em Ilhéus.

O evento foi bastante amplo e abordou a má conduta sobre vários aspectos – inclusive do ponto de vista da cobertura jornalística (assunto sobre o qual eu dei uma palestra).

Mas há algumas conclusões interessantes sobre os dois dias de discussões que gostaria de destacar aqui. A primeira, mais óbvia, é que hoje em dia está mais fácil fazer plágio devido ao acesso facilitado de informações científicas que temos na internet.

A segunda, aí sim mais filosófica, é que o acesso facilitado às informações científicas não justifica o aumento no número de casos de fraude científica. “Não é porque temos acesso às armas que vamos sair por aí atirando”, exemplificou a organizadora do evento Romari Martinez, da UESC.

De acordo com Martinez, muitos estudantes acabam se perdendo em meio a essas informações e copiam trechos sem ter noção de que estão plagiando. Essa, aliás, seria a terceira conclusão do evento: é preciso ensinar os novos pesquisadores a lidar com informações na internet.

Justamente por isso o título da palestra de Martinez foi “Eu não plagiei, professora, eu só copiei da internet”. Ela ouviu essa frase de uma aluna da graduação.
 “E eu senti pela voz dela que ela estava sendo sincera”.

PESO NA CONSCIÊNCIA
“Em vários momento do congresso eu me senti uma infratora. Depois me senti injustiçada porque ninguém nunca me ensinou a lidar com as informações científicas na internet”, disse uma doutoranda da UESC na conclusão do evento.

Assim como ela, uma plateia lotada de estudantes enchiam os palestrantes de questões. “Agora ninguém mais pode dizer que não sabia que isso é má conduta”, concluiu a doutoranda.

Na mesma semana passada, aqui em São Paulo, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp, lançou um código de boas práticas científicas dizendo que precisamos ensinar os pesquisadores e introduzir o debate sobre ética nas universidades.

Mais do que pensar em punições, talvez seja hora de pensarmos em educação para evitar que as punições sejam necessárias..."


Escrito por Sabine Righetti
Jornalismo científico pela Unicamp, mestre e doutoranda em política científica.
Folha de São Paulo  02/10/2011

Brasil é campeão em reciclagem de latinhas

O Brasil lidera ranking mundial em reciclagem de latas de alumínio: em 2010, 97,6% das latas vendidas foram reutilizadas.

O índice brasileiro, segundo a Abal (Associação Brasileira do Alumínio), superou os do Japão, da Argentina, da média europeia e dos Estados Unidos; respectivamente.
"Desde 2001 estamos com índices superiores a 90%, o que mostra que não se trata de uma flutuação. É um índice consistente", afirmou Renault Costa, presidente da Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade).


Em 2010, os brasileiros reutilizaram 97,6% das latas vendidas;
índice é maior do que muitos países desenvolvidos.

Entre 2009 e 2010, houve crescimento de 21% no volume das reciclagens, de cerca de 198,8 mil toneladas para 239,1 mil toneladas --o que equivale a 17,7 bilhões de latas.

Anualmente, consome-se no Brasil, em média, 91 latinhas por pessoa.

A indústria de reciclagem de embalagens de alumínio movimenta aproximadamente R$ 1,8 bilhão - 
R$ 555 milhões só em em coleta-- e gera cerca de 3.800 empregos.

Os representantes do setor informaram que, para que tal índice seja sustentado, é necessário que a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), de 2010, alinhe as políticas estaduais e municipais sobre a reciclagem de embalagens de alumínio, estimule o mercado de resíduos por meio do fortalecimento e do aperfeiçoamento de cooperativas e fomente a reciclagem por meio de desoneração tributária.

O presidente da Abralatas, Renaut Costa, ainda afirmou que o poder público não deve interferir no setor. Ao contrário, deve reconhecer a eficiência dos sistemas de reciclagem existentes e estimulá-los.
____________________________________________________________________________

Por outro lado não foi dito que o grande "herói" desta cadeia é o brasileiro pobre, muito pobre, a maioria com baixíssima escolaridade ( ou quase nenhuma), que sem alternativa de emprego formal, vive na rua, como mordor de rua, ou então nos guetos miseráveis deste país. O catador de latinhas, na sua invisibilidade social, dá ao país o mérito de maior reciclador de alumínio. Palmas, muitas palmas, ao CATADOR DE LATINHAS Brasileiro. Sem ele as latinhas certamente estariam nos lixões a céu aberto tão comuns nessa terra abençoada por Deus....e saqueda por muitos.


A valsa dos Ursos

Esta imagem magnífica foi fetia num dos últimos paraísos para os ursos. Trata-se do Parque Nacional de Katmai, no oeste do Alaska. Um gigantesco território, cheio de vales glaciares, de tundras e praias vulcânicas, onde abunda o alimento preferido: enormes colônias de salmão rosa do Pacífico. Daí provem a incrível serenidade que se percebe na postura dos tres ursos: não sabemos o que lhes atrai a atenção, mas  certamente eles não temem nem natureza nem os homens.


Foto: Thomasd. Mangelsen/Abacapress

segunda-feira, outubro 24, 2011

Em linguagem fácil conceitos jurídicos e o funcionamento do governo a leigos


O projeto educacional "Para Entender Direito", que busca explicar conceitos jurídicos e o funcionamento do governo a leigos, em linguagem fácil e acessível, passa a fazer parte da Folha de São Paulo, no endereço http://direito.folha.com.br/
Voltado ao público em geral, o projeto foi fundado em abril de 2010 por Gustavo Romano, 37, mestre em direito por Harvard. Desde então, já teve meio milhão de visitas.
Segundo ele, o site nasceu da constatação de que a falta de conhecimento torna as opiniões supérfluas e impede o debate cívico no Brasil.
"Nós tentamos dar informação técnica de forma fácil, sem o formalismo e o salto alto normalmente associados ao mundo do direito, e sempre de forma imparcial. Só vamos construir uma democracia de verdade quando as pessoas entenderem do que estão falando."
Romano, também mestre em ciência política pela UFMG e em administração estratégica pela London Business School, é desde 2000 o responsável pelo treinamento jurídico dos jornalistas do Grupo Folha.
O material e a metodologia que utiliza em seu site foram desenvolvidos ao longo de seu trabalho na Folha.
As lições do "Para Entender Direito", baseadas em fatos reais e pertencentes ao dia a dia do leitor, foram adaptadas para o público em geral. "De presidiários a ministros do STJ, já recebemos e-mails de todo mundo", conta.
No site, além de explicações de termos do direito por meio de notícias de jornal e do funcionamento do governo e das leis brasileiras, há vídeos e livros gratuitos.
Com a incorporação do projeto à Folha.com, Romano tem planos de expandir o site e abordar assuntos ligados ao direito e à cidadania.

domingo, outubro 23, 2011

Um só culpado:O CÃO!

http://jornalvoceeseupet.blogspot.com/2011/10/um-so-culpado.html

Rainha da Inglaterra atrai protestos, na Austrália





https://mail.google.com/mail/?shva=1#inbox/1332e257af9e7c00

sábado, outubro 22, 2011

Livro "Alternativas ao uso de animais vivos na educação" disponível para download


sexta-feira, outubro 21, 2011

1º carro que circulou em Porto Alegre/RS (1906)





USP coloca 11 mil fotos de seres marinhos para consulta on-line







http://f5.folha.uol.com.br/bichos/993522-usp-coloca-11-mil-fotos-de-seres-marinhos-para-consulta-on-line.shtml

quinta-feira, outubro 20, 2011

27/9/2011
 
Sul-africanos relatam desilusões com a Copa. Diálogo entre movimentos sociais quer alertar brasileiros
 
Um ano depois de terem sediado o Mundial de Futebol, sul-africanos contam como sociedade não se beneficiou do evento. Diálogo entre movimentos sociais quer alertar brasileiros para os riscos.
A reportagem é de Nádia Pontes e publicado pelo sítio Deutsche Welle, 26-06-2011.
Um ano depois da Copa do Mundo na África do Sul, movimentos de classe sul-africanos têm um parecer sobre como será o evento no Brasil, em 2014: "Os problemas no Brasil deverão ser muito piores. No caso brasileiro, há despejo em massa, muito dinheiro público sendo gasto. Haverá implicações sérias para a sociedade brasileira em termos econômicos". A advertência é de Eddie Cottle, do Building and Wood Worker´s International (BWI), federação internacional que reúne trabalhadores da construção civil.
Isso não quer dizer, no entanto, que a experiência sul-africana tenha sido livre de incidentes. Cottle, que está lançando um livro sobre o legado da Copa 2010, diz que, embora ainda haja o sentimento de orgulho, a população vive uma grande desilusão. "Sediar um evento esportivo dessa magnitude fez com que as pessoas tivessem expectativas altas. Mas um ano depois, ficou claro que não houve ganhos econômicos de verdade."
No fim das contas, a Copa do Mundo somou apenas 0,3% ao Produto Interno Bruto da África do Sul no ano passado, bem inferior à projeção inicial de 3%. Quando o evento acabou, os trabalhadores sul-africanos voltaram à vida de antes, sem sentir melhorias no cotidiano e sem terem mais oportunidades de emprego. "Ficou claro que a Copa do Mundo era um veículo para o setor privado lucrar", completa Cottle.
Perda de oportunidades
A troca de experiência entre os dois países emergentes acontece em níveis diferentes. Enquanto os governos dialogam numa esfera própria, os movimentos civis dos dois países tentam articular estratégias para que a sociedade também desfrute de benefícios duradouros.
Nesta semana, representantes da BWI, da rede internacional StreetNet (que reúne vendedores ambulantes), brasileiros da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional) além de acadêmicos, se encontram na Alemanha para discutir os ganhos sociais que um acontecimento como o Mundial de Futebol pode trazer.
Nos dois casos, o planejamento para abrigar o evento esportivo terá "custos econômicos inacreditáveis que não são estimados", aponta Norbert Kersting, da Universidade de Münster, que estuda as implicações dos megaeventos. O especialista lembra que os governos sempre colocam muita expectativa de retorno no turismo. "Mas o turismo sozinho não segura uma economia, nós vemos agora os exemplos da Grécia e da Espanha. É preciso ter outros setores produtivos."
Segundo um estudo do governo brasileiro, o país deve receber 600 mil turistas internacionais e arrecadar 3,9 bilhões de reais só com esses visitantes durante o evento. Em 2010, a África do Sul recebeu 373 mil turistas estrangeiros – por outro lado, 483 mil visitantes internacionais estiveram no país em 2007.
Ainda há mais um agravante no caso da África, ressalta Kersting: o potencial de áreas que poderiam se desenvolver, como a têxtil, foi desperdiçado. "Toda a produção de camisas para a Copa 2010 foi feita na China, e não na África do Sul, por exemplo. O país-sede do evento poderia ter produzido os uniformes e a indústria poderia ter usado essa chance para seguir no mercado."
Rumo a 2014
Para dar lugar aos estádios e expansão do sistema de transporte nas cidades-sede no Brasil, famílias estão sendo retiradas de comunidades carentes sem saberem exatamente que futuro as aguarda. "No Morro da Providência, no Rio de Janeiro, antes de as famílias serem despejadas, elas recebem um papel do governo que não tem sequer caráter oficial, dizendo a quantia que irão receber, ou a inclusão de um benefício", conta Rossana Tavares, da Fase.
A arquiteta e técnica da entidade comenta que os atingidos pertencem à classe mais pobre e que, na maioria dos casos, as famílias são despejadas na calada da noite, não sabem a quem recorrer e o caso não aparece na mídia. "Ainda não sabemos exatamente o número de famílias deslocadas. Mas, só no Rio de Janeiro, estimamos que até agora 300 tenham sido despejadas", comentou Tavares.
Ao mesmo tempo, comitês populares se formam nas cidades atingidas e tentam levar suas reivindicações até os governos. "É esse o caminho. E ganha a briga quem gritar mais forte", comentou Leonardo Vieira, da CUT, dizendo que os trabalhadores estão em constante negociação com setores privados e o governo em busca de melhores condições.
Conta a pagar
As reclamações dos sul-africanos, diz Cottle, não foram ouvidas a tempo. No caso dos custos dos estádios, por exemplo, a população sabia que se tratava de uma bomba-relógio. "Há poucas semanas, o ex-presidente da organização da Copa do Mundo na África do Sul pediu desculpas ao país porque os estádios não são sustentáveis como ele havia previsto no planejamento original", revelou Cottle.
Como resultado, conta o líder da BWI, a administração federal planeja aumentar os impostos para arcar com os custos de manutenção de arenas esportivas. A de Cape Town custou aproximadamente 1 bilhão de reais. "Havia um estádio numa comunidade pobre de trabalhadores. Mas a Fifa não queria uma arena esportiva numa área pobre habitada por trabalhadores. Então um novo estádio foi construído do zero", adicionou Cottle, lembrando que história semelhante foi vista no Brasil.
Para ler mais:

quarta-feira, outubro 19, 2011

Portal dos Alegretenses

http://www.alegrete.com.br/alegretenovo/modules/livro/

terça-feira, outubro 18, 2011

Cachorro, eu sou um canalha / Não julgue pelo título.Leia até o fim!


ResponderResponder
Mais



 Por trás dos grandes olhos meigos e da cara fofa de um cachorro pode estar escondido um parasita sem escrúpulos.

O chupim é um passarinho que põe seus ovos no ninho do tico-tico. O filhote, quando nasce, às vezes mata seus irmãos adotivos para que sobre mais comida para ele. Outras vezes, fura os olhos dos pequenos tico-ticos para diminuir a competição. Os pais, iludidos, alimentam e cuidam do canalhinha como se fosse seu próprio. Moral da história: o tico-tico é um bicho idiota, certo? Nós, humanos, com toda nossa inteligência, jamais nos deixaríamos iludir por um truque tão barato.
Não é bem assim. Há um animal que mata centenas de humanos a dentadas todos os anos. Só em São Paulo, esse bicho fere 23 000 pessoas a cada 12 meses. Além disso, enche nossas ruas de cocô – nos Estados Unidos são 2 milhões de toneladas anuais, o que equivale à produção brasileira de trigo. Sem falar no 1 bilhão de litros de xixi que eles deixam todo ano nos quintais americanos, nas ruas, nos tapetes e nas camisas brancas que acabamos de lavar. Tanta urina daria para encher todas as garrafas de vinho produzidas no ano passado na Itália, na França, na Espanha e nos Estados Unidos juntos. Essa sujeira consome incontáveis recursos dos serviços humanos de saneamento urbano. E, por falar em dinheiro, gastam-se, ainda nos Estados Unidos, 7 bilhões de dólares por ano para tratar da saúde desses monstrinhos. É dinheiro para cachorro. Fala a verdade: depois de ouvir isso, o chupim nem parece tão aproveitador assim, não é?
Esse bicho crudelíssimo é o cão. Isso, ele mesmo, o seu melhor amigo. Esse mesmo meliante que aparece na foto aí à esquerda olhando para você com cara de bonzinho. Aquele que é louvado incessantemente como “o mais fiel dos animais”, “o bicho mais sensível e inteligente”. Segundo o químico e jornalista científico americano Stephen Budiansky, autor de The Truth About Dogs (A verdade sobre os cães, ainda inédito no Brasil), os nossos bons amigos na verdade não passam de parasitas sociais. Iguaizinhos aos chupins...
Calma, caro leitor amante de cães. Não é hora de arremessar a revista pela janela (ou de entregá-la ao seu pitbull esfomeado). A Super não está endossando uma sórdida campanha contra os cachorros do mundo. Os jornalistas que vos falam, aliás, são ambos felizes proprietários de fofos cachorrinhos. E Budiansky, autor do livro, tem três lindos cães pastores, que ele adora (e que não pararam de latir enquanto tentávamos entrevistá-lo por telefone). “O problema, na verdade, não é com os cães, mas com os donos”, diz ele. “Os humanos têm que aprender a tratá-los como o que são e não como ‘pequenas pessoas peludas’. Por isso é tão importante a ciência desvendar os mecanismos que eles usam para se aproveitarem de nós.”
O mais eficiente desses mecanismos é a fofura. Assim como o instinto maternal da mamãe tico-tico não consegue resistir a um pássaro pelado e faminto gritando esganiçadamente, nem o mais insensível dos humanos fica impassível diante de um bicho com olhos carentes e arregalados, cabeça grande em relação ao corpo e pele macia. Fácil entender por quê: nossos bebês são assim. Ao longo dos milênios, a evolução favoreceu os humanos que se enterneciam com a fofura alheia porque esses cuidavam melhor de seus rebentos, que, por isso, sobreviviam mais às intempéries, propagando os “genes da bondade”. Esses genes permitiram que nossa espécie sobrevivesse, mas nos tornaram mais bobos. Viramos presa fácil de espécies fofas que se aproveitam de nossa hospitalidade.
Quando nossos ancestrais começaram a se fixar em pequenas comunidades, havia lobos em volta das aldeias, sempre à espera de algum resto de comida. Os homens daquele tempo não gostavam desses animais, achavam-nos sujos, transmissores de doenças, traiçoeiros. O tempo passou e os lobos mais bravos mantiveram-se à distância e continuaram caçando para comer. Enquanto isso, os menos agressivos e com aparência mais fofa começaram a se aproximar e se deram bem: encontraram montes de lixo à sua disposição e aprenderam a viver de nossas sobras. Ao longo dos milênios, os lobinhos mais meigos, mais infantilizados, ganharam nossa simpatia e foram conseguindo chegar ainda mais perto até que entraram nas nossas casas. Ou seja, não fomos nós que os escolhemos para cuidar de nossos rebanhos ou para vigiar nossas propriedades. Eles é que nos escolheram. E a meiguice foi uma adaptação da espécie para que nós, humanos, os deixássemos se aproximar.
Esses bichos meigos ficaram incapazes de caçar porque não tinham agressividade suficiente. Mas mantiveram alguns dos instintos de seus ancestrais lobos, que vigiam suas presas, atacam, matam e comem. Os cães pastores, por exemplo, ainda preservam a primeira etapa. Eles são ótimos em vigiar. Passam horas encarando as ovelhas e demonstram um prazer enorme em fazer isso, mas jamais conseguem passar dessa fase: nunca atacam e muito menos matam as presas. Um bicho assim, no meio dos lobos, morreria de fome. Entre os homens, eles são bem-tratados, ganham comida e carinho. Outras raças, como o labrador e o golden retriever, mantiveram apenas a fase de atacar. São ótimos em buscar a presa, mas não sabem matá-la e jamais a comem. Por isso tornaram-se excelentes companheiros para caçadores, buscando os patos e as raposas recém-abatidos. Os cães passaram, portanto, a depender de nós para alimentá-los. Como bons parasitas.
Acontece que todos os caninos são, por definição, “alpinistas sociais”. Entre os lobos selvagens, por exemplo, há sempre um indivíduo que domina os outros, que manda no grupo. O resto passa a vida esperando uma oportunidade para ganhar poder. “Eles estão sempre testando”, afirma Budiansky. “Ficam o tempo todo tentando ultrapassar os limites para ver se conquistam mais espaço. Por isso, numa relação entre homens e cães, tem que ficar muito claro que somos nós que mandamos neles. Se não ficar, eles tentarão mandar em nós...”
Ao contrário do que reza o ditado, não existe no mundo canino a idéia de “amizade”, de “igualdade”: uns sempre estão acima dos outros. Quando você entra em casa e seu enorme pastor alemão pula no seu peito, você pode imaginar que está ganhando um abraço fraterno. “Ele gosta de mim”, você pensa. “Não é nada disso”, diz Budiansky. “Cães selvagens pulam uns nos outros para demonstrar dominação. Os indivíduos dominantes pulam em cima dos dominados. Se um dominado tentar inverter essa ordem, pode ter certeza de que haverá um sério arranca-rabo”, diz. Ou seja, o recado que o pastor alemão quer dar enquanto bate as patas no seu peito é: “Sou seu chefe. Tudo bem para você?” Se você sorri ou o afaga nessa hora, é o mesmo que responder: “Beleza. Pode mandar que eu obedeço”. Daí, uns dias depois, você tenta contrariar o bicho, pondo-o para fora de casa na hora de dormir, negando-lhe um sanduíche de presunto ou brigando com ele porque ele destruiu sua Super novinha (que ele sabia que você gostava de ler). Resultado: mordida.
Essa confusão se deve a outra fraqueza humana: somos autocentrados demais. Achamos que tudo o que os outros fazem é para nós. “Quando um cão destrói algo, concluimos que ele faz isso só para se vingar de algo ”, diz Irvênia Prada, especialista em neuroanatomia animal da Universidade de São Paulo. “Mas isso é antropomorfizá-los. Cães até são capazes de algumas emoções, mas não conseguem arquitetar atitudes complicadas, como uma vingança.” O mais provável é que o xixi no tapete seja só um pedido de atenção, ou um teste para checar quem mesmo é que manda em casa.
O ser humano tem fixação em ficar quebrando a cabeça para descobrir o que os outros pensam dele. Afinal, essa capacidade de lidar com relações complexas é a base da nossa sociedade. Nos preocupamos com o que o cachorro acha de nós, se ele está com raiva, se gosta da gente, se planeja nos atacar. Os cães são bem mais materialistas – eles querem saber o que nós fazemos por eles – pouco lhes interessa o que pensamos. A sociedade deles é bem mais simples: uns mandam, outros obedecem. Estão interessados é em ganhar cafuné ou um biscoito extra. E, se deixarmos claro quem é que manda, eles vão fazer de tudo para nos agradar e ganhar seus prêmios. Agora, se houver dúvidas a respeito de quem está no comando, os bichos tentarão tirar de nós o que querem à força.
Por isso, educar um cachorro é bem diferente de educar uma criança. “Algumas providências simples evitam grandes problemas”, afirma Budiansky. “Temos que ensiná-lo desde filhote a obedecer a comandos. Por exemplo, só dar comida depois que ele estiver sentado. Só fazer carinho depois que ele parar de pular.” Uma criança humana precisa de amor incondicional – ela odiaria ser tratada desse jeito. Mas, para um cão, isso mostra qual a hierarquia dele dentro da sua casa. Se uma criança chora, há algo errado que precisa ser resolvido. Se um cachorro chora, late sem parar ou se finge de doente, e ganha um osso a cada vez que faz isso, fica condicionado a agir dessa forma sempre que precisar de alguma coisa. “Os cães esperam, e precisam, de limites”, diz a veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs, uma das maiores especialistas em comportamento animal do Brasil e dona da simpática vira-lata Violeta, que lambeu o pé da reportagem da Super durante boa parte da entrevista.
Ou seja, se você não se impuser, vai confundir o bicho. Ele jamais saberá quem é o chefe. E certamente será mais infeliz assim. “Experiências com matilhas de lobos confirmam essa idéia”, afirma Budiansky. “Os biólogos observaram que um cão selvagem aceita sua posição na hierarquia do grupo. Ele não desenvolve problemas psicológicos ou fica revoltado por ser dominado...” As dificuldades surgem apenas quando um animal que se julga dominante é obrigado a obedecer.
Se fizermos tudo certinho, o tal parasitismo social acaba. Os xixis e os cocôs serão feitos nos lugares certos, não haverá mais mordidas e humanos não serão mais mortos por animais descontrolados. A relação entre homem e cachorro se parecerá mais com uma simbiose do que com parasitismo. A diferença é que, no parasitismo, só um leva vantagem. A simbiose traz benefícios para os dois. E está claro que os caninos têm muito a oferecer para a humanidade. “O cão dentro de casa é algo vivo, para amar e tocar, uma presença palpável e querida dentro de um mundo virtual”, diz Hannelore, que criou o projeto Pet Smile – toda semana leva cães “voluntários”, como gosta de dizer, a hospitais, e os coloca no colo de pacientes que aguardam uma cirurgia. “O sorriso e a felicidade do paciente ativam o sistema imunológico”, diz o veterinário Mauro Lantzman, cuja clínica em São Paulo, especializada em cachorros-problema, é uma espécie de consultório psicanalítico animal. Nesse caso, somos nós tirando proveito dos cães.
Em resumo: cachorros não são canalhas natos. São cachorros. E precisamos aprender a tratá-los como tal.

*Fonte: Revista Super Interessante
*Por Mariana Mello e Denis Russo Burgierman

sexta-feira, outubro 14, 2011

A loba que come lobos

     Sabatinada para o Superior Tribunal de Justiça, na condição de
primeira mulher a ascender à cúpula da magistratura, a então
desembargadora da justiça baiana, Eliana Calmon, foi indagada se teria
padrinhos políticos. "Se não tivesse não estaria aqui". Quiseram saber
quem eram seus padrinhos. A futura ministra do STJ respondeu na lata:
"Edison Lobão, Jader Barbalho e Antonio Carlos Magalhães".
Corria o ano de 1999. Os senadores eram os pilares da aliança que
havia reeleito o governo Fernando Henrique Cardoso. A futura ministra
contou ao repórter Rodrigo Haidar as reações: "Meu irmão disse que
pulou da cadeira e nem teve coragem de assistir ao restante da
sabatina. Houve quem dissesse que passei um atestado de imbecilidade".
Estava ali a sina da ministra que, doze anos depois, enfrentaria o
corporativismo da magistratura. "Naquele momento, declarei totalmente
minha independência. Eles não poderiam me pedir nada porque eu não
poderia atuar em nenhum processo nos quais eles estivessem. Então,
paguei a dívida e assumi o cargo sem pecado original."
Eliana Calmon nunca escondeu seus padrinhos
De lá pra cá, Eliana Calmon tem sido de uma franqueza desconcertante
sobre os males do Brasil. Muita toga, pouca justiça são.
Num tempo em que muito se fala da judicialização da política, Eliana
não perde tempo em discutir a politização do judiciário. É claro que a
justiça é política. A questão, levantada pela ministra em seu discurso
de posse no CNJ, é saber se está a serviço da cidadania.
A "rebelde que fala", como se denominou numa entrevista, chegou à
conclusão de que a melhor maneira de evitar o loteamento de sua toga
seria colocando a boca no trombone.
Aos 65 anos, 32 de magistratura, Eliana Calmon já falou sobre quase tudo.
- Filhos de ministros que advogam nos tribunais superiores: "Dizem que
têm trânsito na Corte e exibem isso a seus clientes. Não há lei que
resolva isso. É falta de caráter" (Veja, 28/09/2010).
- Corrupção na magistratura: "Começa embaixo. Não é incomum um
desembargador corrupto usar um juiz de primeira instância como escudo
para suas ações. Ele telefona para o juiz e lhe pede uma liminar, um
habeas-corpus ou uma sentença. Os que se sujeitam são candidatos
naturais a futuras promoções". (Idem)
- Morosidade: "Um órgão esfacelado do ponto de vista administrativo,
de funcionalidade e eficiência é campo fértil à corrupção. Começa-se a
vender facilidades em função das dificuldades. E quem não tem um amigo
para fazer um bilhetinho para um juiz?" (O Estado de S. Paulo,
30/09/2010).
Era, portanto, previsível que não enfrentasse calada a reação do
Supremo Tribunal Federal à sua dedicação em tempo integral a
desencavar o rabo preso da magistratura.
Primeiro mostrou que não devia satisfações aos padrinhos. Recrutou no
primeiro escalão da política maranhense alguns dos 40 indiciados da
Operação Navalha; determinou o afastamento de um desembargador
paraense; e fechou um instituto que, por mais de 20 anos, administrou
as finanças da justiça baiana.
No embate mais recente, a ministra foi acusada pelo presidente da
Corte, Cezar Peluso, de desacreditar a justiça por ter dito à
Associação Paulista de Jornais que havia bandidos escondidos atrás da
toga. Na réplica, Eliana Calmon disse que, na verdade, tentava
proteger a instituição de uma minoria de bandidos.
Ao postergar o julgamento da ação dos magistrados contra o CNJ, o
Supremo pareceu ter-se dado conta de que a ministra, por mais
encurralada que esteja por seus pares, não é minoritária na opinião
pública.
A última edição da pesquisa nacional que a Fundação Getúlio Vargas
divulga periodicamente sobre a confiança na Justiça tira a ministra do
isolamento a que Peluso tentou confiná-la com a nota, assinada por 12
dos 15 integrantes do CNJ, que condenou suas declarações.
Na lista das instituições em que a população diz, espontaneamente,
mais confiar, o Judiciário está em penúltimo lugar (ver tabela
abaixo). Entre aqueles que já usaram a Justiça a confiança é ainda
menor.
A mesma pesquisa indica que os entrevistados duvidam da honestidade do
Judiciário (64%), o consideram parcial (59%) e incompetente (53%).
O que mais surpreende no índice de confiança da FGV é que o Judiciário
tenha ficado abaixo do Congresso, cujo descrédito tem tido a decisiva
participação da Corte Suprema - tanto por assumir a função de legislar
temas em que julga haver omissão parlamentar, quanto no julgamento de
ações de condenação moral do Congresso, como a Lei da Ficha Limpa.
A base governista está tão desconectada do que importa que foi preciso
um senador de partido de fogo morto, Demóstenes Torres (DEM-TO), para
propor uma Emenda Constitucional que regulamenta os poderes do CNJ e o
coloca a salvo do corporativismo dos togados de plantão. "Só deputado
e senador têm que ter ficha limpa?", indagou o senador.
Ao contrário do Judiciário, os ficha suja do Congresso precisam
renovar seus salvo-conduto junto ao eleitorado a cada quatro anos.
O embate Peluso-Calmon reedita no Judiciário o embate que tem marcado
a modernização das instituições. Peluso tenta proteger as
corregedorias regionais do poder do CNJ.
Nem sempre o que é federal é mais moderno. O voto, universal e em
todas as instâncias, está aí para contrabalancear. Mas no Judiciário,
o contrapeso é o corporativismo. E em nada ajuda ao equilíbrio. Em
seis anos de existência, o CNJ já puniu 49 magistrados. A gestão
Eliana Calmon acelerou os processos. Vinte casos aguardam julgamento
este mês.
Aliomar Baleeiro, jurista baiano que a ministra gosta de citar, dizia
que a Justiça não tem jeito porque "lobo não come lobo". A loba que
apareceu no pedaço viu que dificilmente daria conta da matilha
sozinha, aí decidiu uivar alto.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política e colunista do Valor Econômico .