Educar para não plagiar : código de boas práticas científicas
"Estive na semana passada em um congresso sobre plágio e má conduta na ciência na UESC, em Ilhéus.
O evento foi bastante amplo e abordou a má conduta sobre vários aspectos – inclusive do ponto de vista da cobertura jornalística (assunto sobre o qual eu dei uma palestra).
Mas há algumas conclusões interessantes sobre os dois dias de discussões que gostaria de destacar aqui. A primeira, mais óbvia, é que hoje em dia está mais fácil fazer plágio devido ao acesso facilitado de informações científicas que temos na internet.
A segunda, aí sim mais filosófica, é que o acesso facilitado às informações científicas não justifica o aumento no número de casos de fraude científica. “Não é porque temos acesso às armas que vamos sair por aí atirando”, exemplificou a organizadora do evento Romari Martinez, da UESC.
De acordo com Martinez, muitos estudantes acabam se perdendo em meio a essas informações e copiam trechos sem ter noção de que estão plagiando. Essa, aliás, seria a terceira conclusão do evento: é preciso ensinar os novos pesquisadores a lidar com informações na internet.
Justamente por isso o título da palestra de Martinez foi “Eu não plagiei, professora, eu só copiei da internet”. Ela ouviu essa frase de uma aluna da graduação.
“E eu senti pela voz dela que ela estava sendo sincera”.
PESO NA CONSCIÊNCIA
“Em vários momento do congresso eu me senti uma infratora. Depois me senti injustiçada porque ninguém nunca me ensinou a lidar com as informações científicas na internet”, disse uma doutoranda da UESC na conclusão do evento.
Assim como ela, uma plateia lotada de estudantes enchiam os palestrantes de questões. “Agora ninguém mais pode dizer que não sabia que isso é má conduta”, concluiu a doutoranda.
Na mesma semana passada, aqui em São Paulo, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp, lançou um código de boas práticas científicas dizendo que precisamos ensinar os pesquisadores e introduzir o debate sobre ética nas universidades.
Mais do que pensar em punições, talvez seja hora de pensarmos em educação para evitar que as punições sejam necessárias..."
Escrito por Sabine Righetti
Jornalismo científico pela Unicamp, mestre e doutoranda em política científica.
Folha de São Paulo 02/10/2011
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