Bichos meus

domingo, março 06, 2011

Lixão de casa

Eu também tinha uma vaga ideia sobre o tempo de decomposição dos materiais orgânicos (naturais) e, principalmente, inorgânicos (artificiais). Refiro-me ao lixo nosso de cada dia. Uma caminhada ao final da tarde e a gente dá de cara com ele. É lixo que não acaba mais. Mas de quem é a culpa? É minha e sua (também). Os produtos acenam das prateleiras com suas tentadoras embalagens. Mas deveríamos praticar uma reflexão inteligente em relação ao descarte, na hora das compras. Infelizmente estamos a anos luz desta consciência de consumo.

Garotão ainda, eu adorava a caixa de sucrilhos com seus desenhos fantásticos. Os sucrilhos, nem tanto. Rapidamente aquelas poucas (na época) caixas se transformavam em lixo. Hoje é assim com quase tudo. Inclusive com o arroz e o feijão. Bye-bye concha, balança e saco de papel. Praticamente tudo é pesado de véspera e acondicionado em marquetadas embalagens plásticas. Dizem os especialistas que um saco plástico consome ao redor de 200 anos para se decompor. Já imaginou?

Não, não sou um ecologista xiita, apenas li com atenção uma reportagem de capa do caderno Nosso Mundo Sustentável, encartado em Zero Hora todas as segundas-feiras. Estava tudo lá, tim-tim por tim-tim: um “inocente” chiclete leva cinco a dez anos para se misturar ao planeta. E a garrafa PET demora um Brasil, ou seja, 500 anos para se decompor. Dá uma olhada no lixo da gente: tá assim de PETs. Parece que a gente não está nem aí para as futuras gerações. Eles que se...

A esta altura do jogo você está pensando que aderi de corpo e alma à causa ecológica. Ainda não. Mas ando chocado com o volume de lixo que nosso insensato comportamento consumista produz. Espie a lixeira do seu edifício. Preste atenção nas calçadas ao fim das tardes. São sacos e mais sacos de detritos espalhados pelo meio-fio. De quase tudo que consumimos grande parte é embalagem... é lixo. Como modificar este traçado de vida se parece que compramos apenas com os olhos? Sem o glamour da embalagem, um produto não se impõe no mercado.

Os mais velhos assistiam filmes entre as décadas de 1950/60 e ficavam maravilhados quando um cidadão americano voltava para casa com um saco enorme (ainda de papel naquele tempo), cheio de embalagens de leite, pizza, sopa, biscoitos etc. Ninguém desconfiava que aquela parafernália de pacotes acabasse no lixo. Pois o lixo globalizou-se. Hoje, no Brasil, estamos até o pescoço. Somos verdadeiras usinas de lixo. Um lixo que (acredite) nos custa os olhos da cara.

A saída é a reciclagem, dizem os especialistas. Uma garrafa PET reciclada vira outra coisa. Mas será que essa “outra coisa” também não vai demorar um Brasil para se decompor? Nosso mundinho empacotado e plastificado parece voltar-se cada vez mais contra nós. Como frear esta tendência se ela abre frentes de trabalho e gera muitos lucros? Lucratividade e empregos são justificativas quase imbatíveis. Já comecei a orar. É preciso encontrar um denominador comum em que as partes envolvidas (incluindo eu e você) cheguem a uma solução que alforrie nosso planeta de transformar-se num grande lixão.

Jornal Zero Hora/RS 06.03. 2011 | N° 16631
Hermes AquinoMÚSICO, PUBLICITÁRIO

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