31.12.2007
Polêmica no ninho da coruja
Preservação de seis aves cancelou festa de Réveillon em Capão
Ninho das aves virou atração em Capão da Canoa
Há três dias, elas são o assunto em Capão da Canoa. Primeiro, foram protegidas e admiradas pela comunidade local. Ontem, ameaçadas de morte.As duas corujas que cavaram seu ninho em um cômoro de areia próximo à Praça do Farol causam polêmica na praia desde que se tornaram a razão do cancelamento do show de fogos de artifícios no Réveillon. É que o ninho onde crescem os quatro filhotes foi instalado a cerca de oito metros do local onde tradicionalmente é acionado o foguetório de Ano-Novo.Às 23h55min de segunda-feira, a prefeitura de Capão da Canoa anunciou que não poderia apresentar o show pirotécnico em razão da existência do ninho das seis corujas. No momento, a prefeitura calcula que mais de 100 mil pessoas aguardavam pelo espetáculo anunciado. Chamado por moradores e veranistas durante a tarde de segunda-feira, quando era montado o aparato para a festa da virada, o 1º Batalhão Ambiental da BM, com sede em Xangri-lá, chegou à orla por volta das 18h30min e solicitou aos trabalhadores que mudassem os fogos de lugar. Conforme o comandante do batalhão, major Luiz Eduardo Ribeiro Lopes, foram "centenas" de ligações pedindo que se evitasse a perturbação às aves.- Houve resistência do pessoal em mudar o local - relatou Lopes. Diante disso, os brigadianos exigiram a licença ambiental concedida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para a realização do evento, mas esta não foi apresentada. O prefeito de Capão da Canoa, Jairo Marques (PDT), disse que nunca foi exigida da prefeitura licença ambiental para o show de fogos, que acontece "sempre no mesmo lugar" há pelo menos cinco anos. Segundo ele, só era necessária a anuência dos bombeiros (que verificam as condições de segurança da instalação dos fogos de artifício). - Se eles tivessem mudado o local, não teríamos exigido a licença. Temos bom senso de ver se não há danos ao ambiente - ponderou Lopes. Como não foi apresentado o documento da Fepam, a Brigada propôs que um biólogo da prefeitura fizesse um laudo autorizando o show pirotécnico, o que também não foi providenciado. Às 22h, o show foi interditado e, às 23h30min, conforme o major, os brigadianos apreenderam o mecanismo de detonação dos fogos.Pagamento pelo show será definido hojeO prefeito diz ter sido comunicado do problema por servidores da prefeitura e de terautorizado a troca de lugar dos fogos às 21h. Mas não havia mais tempo hábil para desmontar e montar novamente o equipamento. O proprietário da Distribuidora de Fogos Tiro e Cor, Orli Franzoi, justificou que a instalação das cinco toneladas de rojões na tarde de segunda-feira demorou seis horas, capazes de proporcionar o espetáculo de 15 minutos.- Foi uma atuação lamentável da Brigada. Estragaram a expectativa de milhares de pessoas - reclamou Jairo Marques. - No ano que vem, não temos como avisar a todos que estavam aqui, um por um, que a festa vai acontecer de novo. As pessoas deixaram de ir para outras praias onde haveria fogos para ver o show ali - afirmou o vice-presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do Litoral Norte, Francelino da Silveira.Às 23h55min, o público foi comunicado de que não haveria fogos e recebeu a notícia com vaias. Muita gente deixou a praia, mas uma multidão seguiu acompanhando o show. A Tiro e Cor, de Nova Trento (SC), foi contratada pela prefeitura por licitação e cobraria R$ 24,7 mil pelo show de fogos. O valor só seria quitado após a execução do serviço, o que será discutido hoje com a empresa. Orli Franzoi afirmou que mandou recolher o produto, e seu reaproveitamento dependerá das condições em que for recebido.
Saiba mais
Coruja-buraqueira
Nome científico: Speotyto cunicularia
Ovos: põe de sete a nove ovos
Incubação: de 28 a 30 dias
Hábitat: vivem no extremo sul da América do Sul
Hábitos alimentares: Pequenos roedores e pequenos insetos
Tamanho: 21 a 27 centímetros
Curiosidade: A coruja-buraqueira tem este nome porque vive em buracos cavados no solo. Embora seja capaz de cavar sua própria cova, geralmente vivem nos buracos abandonados de tatus, cachorros e tocas de animais. Tem uma cabeça redonda, sobrancelhas brancas, olhos amarelos e pernas longas. Diferentemente da maioria das espécies, tem hábitos diurnos. Durante o dia, ela cochila em seu ninho ou toma sol nos galhos de árvores. Tem uma visão cem vezes mais penetrante do que a visão humana e uma ótima audição.
Fonte:
www.saudeanimal.com.br
O que dizem especialistas
A família instalada na orla de Capão da Canoa é de corujas-buraqueiras. A bióloga da Fepam Cristine Weissheimer afirma que o ruído da detonação dos fogos de artifício afugentaria os animais do ninho.
- Eles não voltariam ao abrigo, perderiam o rumo e poderiam morrer - explicou.
O litoral é o hábitat natural das corujas, diz o coordenador da Fepam no Litoral Norte, MatosAlem Roxo. É tão normal que estes animais façam ninhos à beira-mar como no campo, pois ali há alimento em abundância, como roedores, lagartixas e pequenos crustáceos, além de outras aves, como o pardal.
O que é a licença ambiental
Documento emitido pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) autorizando a realização de construções, eventos e atividades que possam ter repercussão sobre o ambiente. O 1º Batalhão Ambiental da Brigada tem a prerrogativa de interditar áreas, embargar obras e apreender equipamentos sem autorização prévia de outras autoridades, afirma o comandante do batalhão, major Luiz Eduardo Ribeiro Lopes.
zerohora.com
Para preservar um ninho de corujas, a patrulha ambiental de Capão da Canoa não autorizou a detonação de fogos de artifício na festa de Réveillon.